Eu quero aproximar
O meu cantar vagabundo
Daqueles que velam
Pela alegria do mundo… Indo mais fundo
Tins e bens e tais!
O verso de Caetano Veloso, na contundente e atualíssima “Podres Poderes”, faz referência a dois monstros sagrados da música popular brasileira. Tim Maia e Ben Jor, os que velam pela alegria do mundo.
Mais do que um elogio, uma verdade indiscutível.
(…)
Os cariocas Sebastião Rodrigues Maia (1942/1998) e Jorge Duílio Lima de Menezes (de idade incerta e bem camuflada, nascido em Rio Cumprido em – eis a dúvida – 1941 ou 1942 ou 1945) são intérpretes únicos e da maior importância no amplo espectro do nosso cancioneiro.
Os dois se conheceram ainda na juventude. Fizeram parte da turma da Tijuca, com Roberto e Erasmo Carlos, entre outros. Embarcaram na onda do rock, em fins dos anos 50, para depois caírem de paixão pela bossa nova de Tom Jobim, Vinícius, João Gilberto, Menescal, Lira, Nara e outros.
Foi a partir dessas influências que ambos desenvolveram estilos próprios e inconfundíveis. Ben Jor (então Jorge Ben) acrescentou a malemolência do samba e da sua ascendência africana – e explodiu com “Mas Que Nada” logo em seu primeiro disco, o clássico “Samba Esquema Novo”.
Tim Maia migrou para os Estados Unidos. Bateu cabeça por ali até voltar para o Brasil, fim da década de 60, com toda o suingue do soul e do rythmy and blues na bagagem. O Brasilzão o conheceu a partir do sucesso de “Primavera”, de Cassiano, mas firmemente assinada por Tim como arranjador e intérprete.
O resto é história – e todo mundo sabe.
(…)
Havia uma admiração mútua.
Ben Jor revela esse sentimento na divertida W/Brasil:
“Chama o Síndico, Tim Maia”
O refrão se explica – e tem lá um fundo de verdade. Moraram no mesmo prédio, no Leblon, de frente para o mar.
Madrugada adentro, não era raro Tim recorrer ao interfone para que, sem que saíssem dos respectivos apartamentos, o amigo o confortasse de alguma mágoa:
“Canta “Que Maravilha” que estou me sentindo muito só. ”
(…)
O que chama a atenção é que, ao longo de quatro décadas, até a morte precoce de Tim Maia, os dois amigos fizeram raras aparições conjuntas. Uma pena!
De memória, lembro a participação conjunta em “Moça Bonita”, no álbum “23”, de Jorge Ben Jor, em 1993.
Antes disso, só se encontraram na gravação de um especial de Ben Jor para a Globo, em 1982, chamado “Energia” (depois virou CD e DVD).
Foi uma apresentação no melhor estilo Tim Maia.
Ele chegou todo pimpão no dia da gravação do programa. De túnica azul, e se disse pronto para cantar “Lorraine”, ao lado do amigo. Só se esqueceu de um detalhe: decorar a letra da música.
– Sem problemas, avisou. – Na hora, eu improviso.
Veja como ficou…
Coisa de gênios!
O que você acha?