Não sei explicar esse meu profundo desinteresse pela seleção.
A verdade é que, desconfio, nunca perdoei a patacoada que Sr. Zagallo fez com Ademir da Guia em 74. O Divino sequer ficava no banco e, quando foi escalado, como volante no último jogo quando o Brasil já estava desclassificado e disputava o terceiro lugar com a Polônia, o treineiro tratou de retira-lo ao fim do primeiro tempo porque Ademir estava muito à vontade, tocando de primeira e saindo para o jogo.
Além do que, naquela Copa, houve a Holanda e o tal carrossel; divertido, arrasador, de encher os olhos. A última manifestação do que um dia se entendeu chamar de “futebol arte”.
De lá para cá, só mesmo a seleção de 2002 contou com minha singela torcida. Um tanto pelo Marcão em fase extraordinária (e os corintianos queriam o Dida), outro punhado pelo Felipão que foi massacrado pela mídia e seus asseclas que, alucinados, clamavam por Romário na seleção. Um deles, desrespeitoso e ensandecido, chegou a chamá-lo de “xucro”.
Foi bom vê-los morderem a língua – e ainda hoje, quando vejo os ditos-cujos elogiarem o gaúcho, lembro a cena e sei exatamente avaliar o que dizem.
Enfim…
Já ouvi algumas vezes que tenho os fios trocados porque, sobretudo no universo da bola, inevitavelmente não concordo com o que diz e pensa a maioria. Nas inevitáveis discussões de botequins, os amigos acham que tenho inominável prazer em ser do contra, o rabugento de plantão.
Tenho minhas razões.
A primeira delas é não ficar refém da opinião de quem é tão torcedor como eu, especialmente sobre um assunto onde não há lógica, nem ciência – e cada um fala pela própria história do que viveu nas arquibancadas e nos campinhos de terra batida. Um gol de canela do valente e inesquecível Galeano vale tanto quanto o mais belo gol de Pelé.
Depois, como acontecei em 82, você pode até pagar geral. Ganhei sozinho o bolão da Copa feito no jornal em que trabalhava. Uma dinheirama da boa. Apostei todas as fichas na Itália, de Paolo Rossi e Pierluigi Antonioni.
Foi um cinco de julho inesquecível…
Bem, mas não estou aqui para contar prosa ou coisa que o valha. Quero, sim, registrar meu espanto ao constatar solenemente que, a cartolagem tanto fez, tanto aprontou, que hoje a maioria está comigo ou eu estou com a maioria: ninguém dá a mínima para a “amarelinha”.
Indiferença total, e das mais compreensíveis.
Espero que permaneçam assim até a Copa de 2010 – e não caiam no converse dos galvões da vida. Eles precisam disso para garantir a audiência; nós, não.
Sendo assim, ouso fazer um convite aos meus novos pares:
O que acham de torcemos todos para a Argentina, de Maradona, Messi e Veron?
Ontem, foi 4 a 0 fora o baile.
E aí, topam?
* FOTO no blog: Jô Rabelo