Ela me encontrou na fila do banco – e foi logo falando:
— Fui ao blog e desisti. Tem muito post de futebol.
Há tempos não via a moça que, aliás, mal conheço. Ficamos apenas no bom dia ou boa tarde pelos corredores da universidade.
Estranhei , portanto, essa aparente proximidade.
Mesmo dei um risinho sem graça, prometendo tratar de outros temas.
Ela foi enfática, na resposta:
— Gosto quando você conta histórias de amor. Qualquer dia, eu volto lá. Capricha!
Enquanto esperava minha vez de ser atendido pelo caixa – e quitar as contas do mês – fiquei matutando a observação da moça que, alguns passos atrás de mim, já engatara conversa com um rapaz paramentado de atleta:
Blog não é coluna de jornal.
Acho que nunca havia pensado nessa diferença.
Escrevi por anos e anos em jornal impresso. Tive uma coluna semanal que tratava, via de regra, o principal assunto daqueles sete dias. Basicamente, creio, meu afável leitor me entendia como uma fonte abalizada para discorrer sobre o tema.
Havia certo formalismo nesse relacionamento. Natural, aliás, dentro de um processo de comunicação – eu era o emissor e ele (leitor) o receptor da notícia.
Papéis claramente definidos.
Com o blog – e a web, de um modo geral – não é assim.
Não temos – salvo diletas exceções – leitores/internautas cativos. Com dia e hora para nos ler e se informar.
Ele nos procuram quando bem entendem – e por motivos que nem desconfiamos.
Vi ontem nos gráficos de visita deste modesto blog que o maior índice de leituras se dá às 15 horas.
Não ouso fazer ideia do motivo.
Também a tal corrente natural dos processos comunicacionais (emissor e receptor) foi para o espaço. No ato, a rapaziada que nos lê já se faz presente, com comentários, palpites, críticas e, vez ou outra, elogios.
Todos somos um; iguais mas diferentes.
Não sei se esse tipo de interação é bom ou ruim. Não pensei nisso, nem vou pensar. Ao menos, por enquanto.
Sei que é assim.
Querem ver?
Nos mesmos gráficos de pesquisa, flagrei uma solitária visita de minutos de um internauta que veio me ler – ou apenas espiar – e que mora em São Petersburgo.
Nunca imaginei que minhas mal traçadas linhas chegassem tão longe. Sequer me via andando por aquelas frias plagas. Agora, estou pensando seriamente em conhecer o local – e, quem sabe?, procurar quem é o nosso herói.