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Todos os santos

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Foto: Arquivo Pessoal

Difícil dizer…

Desde que tenho alguma noção das coisas – se é que tenho alguma? – as referências à religiosidade e aos santos se fazem presentes.

No meu aniversário de 4 anos, ganhei de uma senhora de nome Olga uma pequena imagem de São Jorge.

Tenho essa imagem ainda hoje.

Ideia da Dona Yolanda, minha mãe, à amiga que me tinha como afilhado.

Muito provavelmente.

A mãe me queria um homem pio quando crescesse.

– Se possível, padre?

“Católica, apostólica, romana”, como gostava de ressaltar nas conversas com as cunhadas que, pouco a pouco, se bandeavam para o lado dos “crentes”.

Dona Yolanda era devota de Santo Antônio, de fazer promessa e guardar o “pãozinho bento” na lata de açúcar:

– Para que não nos falte o alimento.

Ela se orgulhava de dizer que rezava para todos os santos, pois assim a vida seria plena de bênçãos e graças.

– Os santos estão presentes em nosso dia_a_dia como intercessores e guias.

Explicava:

Ela e o pai casaram-se na igreja de Sant’Anna e São Joaquim, na paróquia de Nossa Senhora da Glória no Cambuci.

Eu nasci no dia de Santa Bárbara, 4 de dezembro.

Estudei em colégio marista, congregação fundada por São Marcelino Champagnat, devoto de Maria, Nossa Mãe.

Quando visitávamos a irmã dela, minha Tia Odete, no longínquo Alto do Ipiranga, sempre que possível estendíamos o passeio à igreja de São Vicente de Paulo a alguns quarteirões dali.

Na casa dos avós maternos, Ignês e Carlito, onde também morava o Tio Neno, havia uma imagem em tamanho natural, de Santa Rita de Cássia.

Aos domingos e dias santos, a mãe levava a mim e às minhas irmãs à igreja de São Francisco de Assis no centro de São Paulo, ao lado da renomada Faculdade de Direito da USP.

A mãe gostava de nos contar da força de vontade, dos milagres e do depreendimento do santo e de sua fiel escudeira, Santa Clara.

A ambos ela se referia como o Irmão Sol e a Irmã Lua.

E assim seguíamos nossa vida.

Em meio a tantas e tamanhas indicações, eu seguia, como vou dizer?, com um pé cá e outro lá.

Confiava desconfiando.

Sabem como é?

Jovenzinho, coração, hormônios e neurônios a mil, me afastei um tantinho do bom caminho.

Mas, nunca o perdi de vista.

Já na velha redação, admirava a devoção do nosso mestre Nasci a São Judas Tadeu.

Nasci não era propriamente um carola, mas todo dia 28 batia ponto cedinho na igreja do santo no Jabaquara.

No dia 28 de outubro, data consagrada a São Judas, a visita era mais demorada.

Alguns duvidavam. Eu achava bonito.

Ainda na redação, fiquei super feliz quando o repórter Ismael Fernandes, meu grande amigo, nos trouxe em primeiríssima mão a informação da beatificação e posterior canonização de Santa Madre Paulina, a primeira santa brasileira, que viveu no Ipiranga quase toda sua vida – e lá fundou a Congregação das Irmãzinhas de Maria.

– Um furo de reportagem em nível nacional. Não e uma bênção? – regozijou-se o Isma.

– Um milagre, respondi sem me dar conta de que preparava o retorno às origens.

Aliás, não sei lhes dizer exatamente o motivo.

Certa manhã – eu devia ter uns 40 anos, pouco mais -, cheguei muito cedo à redação do jornal, resolvi dar uma caminhada e acabei nos arredores da histórica igreja São José do Ipiranga.

Uma cantoria generalizada chamou minha atenção.

Entrei.

Era a missa diária das 8 horas – e um grupo de senhorinhas entoava, entre uma e outra oração, hinos de louvor e glória.

Voltei no dia seguinte, depois no outro, no outro…

E assim foi por alguns anos.

Diria que foi aí que se deu o reencontro.

Quando saí do jornal, passei a fazer minhas orações diárias na igreja de São João Batista, no bairro do Rudge Ramos, perto da Universidade em que eu dava aula, em São Bernardo do campo.

Numa dessas estadas, alguém – talvez o pároco, não sei – me perguntou sobre a minha profissão.

Respondi que era jornaista.

E o homem me esclareceu:

– Faz sentido. Tudo a ver com a sua profissão.São João Batista nos informou sobre a boa nova. O nascimento de Cristo. Tomara seja também o seu destino sempre nos dar boas notícias.

Uia.

Fiquei sem palavras.

Nas andanças, mundo fora, outras referências me chegaram. Assim sem que eu me desse conta e eu as incorporei ao meu cotidiano, com olhos e coração do garoto que fui e, espero, nunca deixa de ser:

São Sebastião, São Maximiliano Kolbe, São Padre Pio, Santa Tereza de Ávila, Santa Terezinha do Menino Jesus, Santa Cecília de Roma, Santo Frei Galvão, Santa Dulce dos Pobres, Santa Madre Tereza de Calcutá, São Genaro (visitei sua basílica em Nápolis), Santa Edwiges (a santa dos endividados), Santo Expedito (o santo das Causas Urgentes), Santa Genoveva (a heroína da França, visitei sua igreja em Paris), São Francesco de Paola (o padroeiro da Calábria, terra dos meus avós Rosina e Rodolfo), São Thiago de Compostela (que um dia imaginei fazer o tal caminho para conhecer a Catedral famosa – e fiz, só que de carro mesmo.Vale também…)

Santos que reverencio publicamente hoje, 1º de novembro, Dia de Todos Santos…

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