01. No país dos precatórios, o presidente que sorri e viaja está a comemorar mais uma vitória: a confirmação em votação de segundo turno, na Câmara Federal, de que a reeleição está a um passo de se tornar uma doce realidade. Basta apenas o sim do Senado para que se dê a aprovação oficial, o que deve ocorrer em poucas semanas. Assim, teremos um biênio 97/98 política e eleitoralmente intenso. É muito provável que nos acenem com as vãs esperanças de um País melhor e, é muito provável, nos convençam de que essa grande locomotiva chamada Brasil está finalmente nos trilhos e em mãos de hábil maquinista. O tal marketing político é capaz de tudo, acreditem… Até mesmo nos fazer crer que o presidente que sorri e viaja merece mesmo um segundo mandato para mais sorrir e viajar…
02. A semana também trouxe outros motivos para comemorações no eixo central de Brasília. O Índice de Preços ao Consumidor da Fundação de Pesquisas Econômicas da Universidade de São Paulo subiu apenas 12 por cento na terceira quadrissemana do mês. Ou seja, estima-se uma variação inflacionária próxima de zero para fevereiro. E mais: o "temível" impacto da CPMF sobre os preços foi insignificante, como atestou recente pesquisa da Confederação Nacional do Comércio. Os economistas da Corte apressam-se em saudar os novos tempos.
03. Uma pena que a vida não se limite a esses horizontes. O que se vê ao nosso redor não nos remete a maiores devaneios. As tais conquistas não alteram o nosso dia-a-dia de asperezas e tragédias. Que, diga-se de passagem, se tornam a cada dia mais absurdas e revelam a falta de perspectiva de um povo que, além de um novo repertório de palavras (como títulos públicos, precatórios, numerário, honoris-causis…) , nada vê mudar e que lhe insinue uma nova — e promissora – realidade.
04. O escândalo dos títulos públicos, que ora domina os noticiário nacional e a todos causa indignação, mostra o quanto ainda estamos longe do que se quer como ideal. Um País democrático, com instituições fortes e uma máquina administrativa ágil, enxuta e que permita claramente a transparência de seus atos e realizações. Esses quesitos são fundamentais para que todos possam acessar — e julgar — a validade dessas práticas. No entanto, a impunidade continua sendo marca registrada do Brasil nesse final de século. Quando o impacto do assunto já não render as primeiras páginas dos jornais, o esquecimento da opinião pública é natural. Nessa trilha, é muito provável que os culpados escapem para terras longínquas e vivam, em mansões de torneira doirada, como aquele jovem ex-presidente que, embora vivendo em Miami, sonha em voltar ao Poder por aqui.