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Tristemente

Aos 26 anos, a empregada doméstica A.S. é uma das tantas migrantes que chegam a São Paulo, vindas de todos os quadrantes, para viver as tão sonhadas maravilhas da cidade grande. É muito provável de que cedo percebeu as asperezas do nosso dia-a-dia. Mesmo assim, por aqui foi ficando. E do jeito que pôde arranjou trabalho, constituiu família, mantendo firme e forte o sonho de ser feliz.

Há coisa de dois meses, pouco mais, pouco menos, precisou recorrer a um dos hospitais do Sistema Unificado de Saúde. Não se sentia bem, com dores e cólicas. Depois de encarar algumas filas e outro tanto de burocracia, foi atendida por um ginecologista que diagnosticou um provável cisto no útero, suspeita a ser confirmada por um exame de laparoscopia e os complementares exames de sangue. O médico lhe indicou dois hospitais que lhe prestariam assistência: o Brigadeiro e o São Paulo. Exatamente aqui começou sua via crucis. No primeiro hospital que procurou o São Paulo, foi informada que o equipamento para a laparoscopia estava danificado — e não havia prazo para voltar a funcionar. No Brigadeiro, o exame só poderia ser efetuado em fins de janeiro. Porém, antes precisaria apresentar os exames de sangue e passar por um clínico geral. A.S. andou de hospital em hospital, inclusive em outras regiões da Capital, e até a manhã de quarta-feira ainda não havia encontrado um horário disponível para o atendimento que o bom-senso supõe trivial. "Só em fins de janeiro " foi o que ouviu por onde andou.

* A sina dessa brasileira, que morava na região do Ipiranga em 1996, está na crônica “Uma História Tristemente Comum” que inclui no ebook “Das Coisas Simples, Sensatas e Sinceras”, publicado pelo site Amazon.com, agora em julho. A coletânea reúne 60 textos que escrevi, entre 1995 e 2003, na coluna “Caro Leitor” que mantive em Gazeta do Ipiranga por mais de 20 anos. Além de um grande apreço a este período de minha profissional, um dos motivos que me levou a publicá-lo foi – sobretudo – o que acima pode ser constatado: algumas questões no Brasil continuam tristemente as mesmas.