40 minutos de caminhada. Em ritmo moderado, mas constante.
Pronto!
Não me venham com a pecha de sedentário, ok?
Retirem, por favor, do meu prontuário – em que constam obesidade, maior de 60, alimentação desregrada e propensão hereditária aos males cardíacos – mais este fator de risco.
Está bem, reconheço: já fui melhor.
Jogava bola quase todos os dias da semana, me exercitava e tal. Mas, convenhamos, por hoje e pelas atuais circunstâncias, já fiz a minha parte.
Prometo – sem muita convicção – retornar amanhã. No mesmo batlocal.
Há um parque perto do apartamento onde moro (ou me escondo, a depender do ponto de vista dos amáveis leitores).
O lugar é bacana. Tem uma razoável área verde bem cuidada, pássaros diversos, fontes artificiais (que imitam um riacho de cidades interioranas, com pequenas cascatas) e até música ambiente, dessas que antigamente a gente ouvia nos elevadores e nas salas de espera dos consultórios – quem se lembra?
Dá uma certa paz de espírito estar ali. A compartilhar aquele espaço com pessoas de todos os tipos, de todas as idades. Que caminham, se exercitam, correm, passeiam, descansam, leem, brincam ou apenas contemplam um naco de natureza em meio ao cinza e à contundência da vida na grande cidade.
Não estou certo do que verdadeiramente buscamos ali.
— Você está pensando coisas boas?
O senhor de traços orientais, pra lá dos 70, faz a pergunta, e sorri diante da minha perplexidade e do meu silêncio.
Sem se comover ou se alterar, dá outra entonação para a frase.
— Você está pensando coisas boas.
Parece saber das coisas ao concluir, na maior gentileza:
— Ótimo. Assim todos teremos um bom dia!
Ele se afasta com passos miúdos, amparado por uma bengala de madeira.
Foi conversar com outro solitário com cara de tédio.
Desconfio que o homem é sábio, ou um anjo.
Valeu a dica e o afago na alma.
(Estava mesmo precisando.)