Impossível dizer não a uma mulher como aquela.
Por tudo e por nada, Almeidinha apenas ameaçou um sorriso já calculando, mentalmente, a idade da moça. Era pouco mais do que uma menina quando saiu da Redação para trabalhar numa retransmissora no interior de uma conhecida rede de TV. Agora deveria estar batendo nos 30, se tanto.
No ponto, avaliou sem dizer palavra.
Disfarçou como pôde o saboroso pensamento, antes de saudá-la com ares de indiferença:
— Nossa, que bons ventos a trazem?
Foi a vez delazinha sorrir – e, de quebra, iluminar ainda mais o encanto que lhe era nato.
— Queria conversar um pouquinho. Tem uns minutos pra mim?
O velho jornalista folgou ainda mais o nó da gravata – um hábito de usar peças fininhas, de cores sóbrias, com o colarinho aberto:
— Fique à vontade.
E mais não disse por que nos 40 minutos que se seguiram ela engatou um assunto atrás do outro: dois ou três amores perdidos (“o que mais lhe doeu foi quando descobri que Cadu por uma estagiária como um dia eu fui”), o emprego que já não lhe entusiasmava (“essa coisa de garota do tempo é de uma futilidade!”) e a vontade de dar um rumo novo para a vida e para a profissão.
Fez uma expressão de garota sapeca levada da breca e confessou:
— Meu sonho é ser autora de telenovela. Emocionar as pessoas, retratar a vida, os sonhos, os amores… O que você acha?
* Amanhã continua…
** FOTO NO BLOG: Montevidéu/arquivo pessoal