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Um coração corintiano

Valtinho Cazuza devia andar aí pela casa dos trinta, trinta e poucos anos.

Era zagueiro do ‘cascudo’ do Santos Futebol Clube do Cambuci, e integrante da ala da realeza da Escola de Samba (ou ainda era cordão que se dizia? Império do Cambuci.

Mas, não eram os chutões para o mato com os quais o Cazuza limpava a área, nem o porte e a fantasia de conde (com cabeleira e tudo) que ele exibia no Carnaval que nos impressionavam.

Éramos moleques de rua, jogávamos bola na calçada da Muniz de Souza, e adorávamos ouvir as expressões que o Cazuza inventava ou repetia como se fossem suas.

“Ai, minha Santa Catarina!” era a mais famosa delas.

Ele – e nós, que o copiávamos – a usava para fins diversos.

Podia ser de espanto, com o enorme balão que caía sobre a rede elétrica.

“Ai, minha Santa Catarina!”

Podia ser de puro deleite ao ver passar a mulata Constança.

“Ai, minha Santa Catarina!”

Outra do Cazuza:

“Mas é o cão…”

E aí significava dizer que a situação não andava lá muito bem.

Anos 60, o Corinthians não ganhava do Santos de jeito algum. Não era campeão nem de jogo de palitinho. E o nosso ídolo com o radinho Speak no ouvido, e o narrador a anunciar fim de jogo. Alguém sempre lhe perguntava:

— E aí, Valtinho, e o Corinthians?

A resposta era a de sempre.

— Mas é o cão…

Significava dizer: perdeu de novo.

Lembrei do Valtinho Cazuza na noite de quarta-feira, quando vi o painel que a torcida do Timão fez em forma de eletrocardiograma.

É que, além de corintiano, ele tinha outra expressão que só usava em casos especialíssimos. Quando ouvia um samba dolente de Ataúlfo Alves ou quando ouvia a filha pequena lhe chamar de “papai”.

— Ai, meu coração, meu coração, meu coração…

Nunca mais tive notícias do amigo, quase ídolo.

Mas, pelo que vi nas arquibancadas do Pacaembu, as finais da Libertadores, frente ao Boca, fará com que os corintianos reúnam todas as expressões do Cazuza – Ai, minha Santa Catarina. Mas, é o cão… ai, meu coração, meu coração, meu coração… – em outras mais.

E ainda serão poucas, e válidas.

Foto: Jô Rabelo