“Temos um futebol de quinta.”
A frase é do jornalista Juca Kfouri durante a mesa redonda Linha de Passe, ontem à noite, na ESPN Brasil.
Achei curioso porque, horas antes, num papo entre amigos, disse que somos a quinta divisão do futebol mundial. Foi um chutisco meu, e causou certo espanto entre meus interlocutores.
Estamos atrás do futebol inglês, alemão, espanhol, francês, italiano… Ou não?
II.
Tenho uma tese sobre o assunto que é amplo e complexo. Vou tentar resumi-la.
É o seguinte: enquanto o futebol era arte, fantasia, um esporte que privilegiava as individualidades, éramos os reis do Planeta Bola. Na medida em que se tornou uma peleja de força, estratégia e disciplina, perdemos essa primazia.
Simples assim.
É parte do nosso DNA futebolístico (ou era?) o drible, a finta, o improviso, o estilo, O futebol de várzea (e o de praia) determinavam nossas características mais genuínas no esporte. O boleiro era o protagonista, o ser encantado que nos levava aos estádios e instigava a imaginação do garoto, a euforia do torcedor.
Quando o futebol vira um grande negócio, globaliza-se, aposta na mecanização, no tal de jogo coletivo (um por todos, todos por um), dá ênfase aos ‘professores’, aí nossa bolinha murcha, se apequena. Se muito, conseguimos nos equiparar a outras seleções. Mas, via de regra, entramos em campo em desvantagem. Não somos proveitos, somos pura fama.
III.
Há inúmeros aspectos a serem discutidos.
Tento relacioná-los ainda que brevemente: a organização do calendário, a moralização da CBF e das federações, a modernização das administrações dos clubes, a transparência dos negócios da bola, a relação entre os clubes e as TVs, a atenção com as categorias de base etc etc.
Mas, em essência, enquanto não equacionarmos esse dilema – o que éramos e o que somos – não há saída. Ontem, o vexame foi o 7 a 1 diante da Alemanha na semifinal do Mundial de 2014; amanhã, pode ser uma derrapada feia diante do Haiti.
*Por hoje é só. Amanhã retomo o assunto. Falo do boleiro/celebridade.