Era como se eu estivesse dentro de um filme, daqueles antiguinhos em preto-e-branco. Como cenário, as ruas desertas cobertas pela neve.
E eu, todo encapotado, a caminhar…
Naquela tarde de inverno rigoroso, era o próprio viajante parvo a estar no lugar errado, na hora errada (um dia depois da nevasca, poderia ser pior) perdido pelos quarteirões de Nova York.
Causava-me (in)certo desconforto d’alma imaginar que, no Brasil vivíamos pleno verão e que poderia ter escolhido algum canto do Caribe no lugar de optar pelas férias fim de ano nos Estados Unidos.
Estava congelando, virando pinguim.
Só queria um lugar quente e um café, idem.
II.
Saí para ver a tal exposição no tal Museu de Arte Moderna, como se fosse um descolado da vez. Agora, me arrastava, sem grande convicção do que realmente queria, pelas quadras sem fim.
O que fazia ali?
Não me perguntem. Não sei o que lhes responder.
Sabem como é vida de turista…
Faça chuva, faça sol ou mesmo depois de uma bruta queda de temperatura, o cara tem de ir para a rua. Aproveitar, seja o que for. Aproveitar.
Ficar no hotel não está com nada.
(Eu particularmente até que gosto do vai-e-vem dos lobbys dos hotéis, mas reconheço há coisas mais interessantes a se fazer mundo a fora.)
III.
Chego ao MoMA, e vou direto à lanchonete.
Não é difícil de achar. Peço um cappuccino e me recosto ao balcão, sem grande interesse de sair dali nos próximos minutos, nas próximas horas – quiçá, nos próximos dias.
Me sinto em cacos, trincando.
A bebida aquece, mas não reanima.
Ocorre-me chamar um táxi – e voltar para o hotel. Já não tenho interesse em Van Gogh, Monet e que tais.
Tenho mais uns dias na cidade. Volto outra hora.
IV.
Reparo mãe e filha (três/quatro anos, se tanto) dividem o lanche e o café a poucos metros de mim. Conversam, riem , debruçam-se sobre o tablet, as mochilas, celulares (dois) e um desses equipamentos que orientam as visitas.
Parecem brincar com as engenhocas, mesmo em um dia cinza e frio.
Não sei se alguma obra famosa me comoveria tanto. Transformam-se (ambas) em uma versão pop da Madona dos dias atuais.
Rescendem à vida, à luz…
V.
Ouço que a menina se chama Lia, e simpaticamente me dá um “oi” quando, de saída, passo por elas.
Fico tolamente feliz.
Só dentro táxi, a tentar fazer-me entender para o motorista indiano (que faz cara de poucos amigos com o endereço que lhe dou), descubro a doce realidade:
"Aposto que eram brasileiras."