Escrevo antes de mais nada para mim mesmo – aquilo que eu gostaria de ler. Mas não escrevo só para mim. Nem para os meus amigos, nem para meia dúzia de leitores, mas para o maior número possível de pessoas.
Escrevo para me comunicar, e o que mais me alegra é quando essa comunicação se estabelece. Sinto-me defasado em relação à realidade que me cerca. Para atingir a minha dimensão normal, ser do meu tamanho em relação aos meus semelhantes, tenho de escrever. E se consigo provocar em algum leitor ao menos um sorriso feliz ou uma lágrima de ternura, já me dou por recompensado. Nem sempre tomo conhecimento – e essa é uma das aflições de um escritor.
Quanta coisa já escrevi que, mesmo tendo sido lida por muita gente, jamais saberei que efeito causou.
Mas às vezes fico sabendo, e de maneira bem surpreendente.
Um dia soube que um casal estava se separando e, na hora de dividir as coisas da casa, o marido pegou um livro meu e disse que era dele, fazia questão de levar consigo. A mulher protestou, dizendo que era seu, ela é que havia comprado.
Ele se espichou na cama, começou a ler o livro e de repente desatou a rir. Ela se ofendeu: não podia admitir que, num momento tão importante da vida deles, o marido tivesse coragem de ficar rindo, como um idiota. Ele pediu desculpas e leu para ela o trecho que lhe provocara riso. Ela também começou a rir e em pouco os dois passaram a ler juntos na cama. Acabaram na cama sem o livro. E desistiram de se separar.
Reconheço que até parece história inventada por mim.
*Antes parecesse mesmo… Mas não é…Trata-se, sim, do depoimento do grande Fernando Sabino publicado na abertura do livro O Bom Ladrão (Editora Ática, 2001) – um dos tantos do saudoso escritor que reli nesse feriadão. É o meu presente para vocês. Não, de Páscoa; mas de 1º de abril…