Dia desses escrevi que, por mais de vinte anos, trabalhei como repórter na área de Artes & Espetáculos, cobrindo especialmente a cena musical da época – que, registre-se, era pra lá de grandiosa [entre 1976 até os anos 90].
Pois, então…
Foi o que bastou para que um dos meus amáveis cinco ou seis leitores – na verdade uma amiga distante, a Leila – me perguntasse: qual o melhor show que assisti nesse período?
Não precisei sequer dar um google na memória para afirmar, com plena convicção: Trem Azul, com Elis Regina, com o violonista Natan Marques na direção musical.
Foi o último show da Baixinha, lançado como álbum duplo, após a sua morte.
Eu assisti a versão paulistana, em 1981, que inaugurou a filial do Canecão em terras de Piratininga. A casa situava-se em uma grande avenida na zona norte – e, cá entre nós, não vingou por aqui. Mas, por essas apresentações de Elis, marcou seu nome na história paulistana da mpb.
Até hoje não sei lhes dizer se o palco era acanhado ou se foi Elis quem se agigantou a tal ponto que o fez pequeno. A gauchinha estava absoluta. Senhora de todos os acordes, de todos os sons, de todas as emoções.
O repertório enfeixava diversas matizes do nosso cancioneiro. Tinha Gil (“Flora” e “Se Eu quiser Falar Com Deus”), Caetano (“Menino do Rio”), Milton (“País do Futebol”, “Maria Maria”), Rita Lee (“Alô Alô Marciano”, “Lança Perfume”), Gonzaguinha (“Começar de Novo”), Lô Borges (“Vento de Maio” e “Trem Azul”), entre outras.
Até mesmo o bolero de Armando Mazanero (com versão de Paulo Coelho), “Me Deixas Louca”, soou denso, arrebatador, indelével.
Não sei se a recente separação do pianista César Camargo Mariano influenciou a sensível interpretação de Elis para cada verso cantado. Sei que este modesto escriba saiu dali fascinado, sem saber como definir a dimensão do espetáculo.
Assisti a centenas de shows. Vi Benjor celebrar a alegria no vão do Masp, Caetano quando voltou do exílio e se apresentou no Tuca, Gil no Colégio Equipe quando cantou pela primeira vez o reggae “No Woman No Cry”. Vi Chico, Milton, Paulinho… Vi tantos e tamanhos. Nada, porém, se iguala ao esplendor da nossa maior cantora naquela noite – trinta anos atrás. Inesquecível!