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Um tal Serginho

Lembro-me de um tal Serginho na porta do Colégio Equipe a inspecionar o movimento do público que chegava para mais um show que ele promoveria, sempre nos finais de semana. Corriam os anos 70 e os cantores e compositores da MPB andavam à deriva, sem espaço nas rádios e nas TVs. Vivíamos um período ditatorial – e eles não tinham onde mostrar as belas canções, trilha sonora daqueles anos de chumbo.

Serginho era um rapaz de pouco mais de 20 anos e topou o desafio de abrir o acanhado teatro do Colégio para divulgar o trabalho da rapaziada e receber jovens de toda a cidade.

Gil, que acabara de voltar do exílio, foi o primeiro a se apresentar, inaugurando o que se convencionou de “circuito universitário”. Logo os D.As e C.As das universidades adotaram o mesmo procedimento e a chamada “geração de briga – Alceu, Fagner, João Bosco, Gonzaguinha, Ivan Lins, Geraldo Azevedo, Walter Franco, Melodia, entre outros – pode dar vazão à produção musical e encontrar um caminho personalíssimo dentro do cenário artístico e cultural da época.

Alguns nomes da ‘Velha Guarda’, como Cartola, Clementina de Jesus, Nélson Cavaquinho e Carlos Cachaça, encontraram guarida nesses espetáculos, assim como medalhões dos anos 60, como Paulinho da Viola, Caetano e Mílton.

Eu, particularmente, não perdia um show no Colégio Equipe.

Lembro alguns que me pareceram históricos:

1 – a noite em que João Bosco se apresentou à luz de dúzias de velas porque deu
um pane na rede elétrica do teatro;

2 – o show em que o debochado Alceu Valença pediu um socorro à platéia porque não conseguia, ele próprio, afinar o violão. “Alguém sabe fazer esse troço?”, perguntou aos espectadores

3 – e o mais tocante deles, a tarde em que Gil apresentou, pela primeira vez, a versão de “No Woman No Cry” para uma plateia que se espalhava pelo pátio do Colégio. Havia gente até no tealhado da escola.

Ontem, Serginho Groisman foi homenageado em um dos quadros do Domingão do Faustão e rememorou alguns episódios desse período. Aproveito a chance para mais uma vez reverenciá-lo: sem a iniciativa de Serginho, não sei se a MPB teria andado tudo o que andou…

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