“Na Globo, por muitas vezes, não falei o que quis. No entanto, acreditem, eu nunca falei o que eu não quis.”
Ouvi a frase, faz alguns muitos anos, do então âncora de um dos telejornais globais, o jornalista Carlos Nascimento.
Minto.
Lembro agora que ele já estava no SBT quando fez esta palestra aos alunos de jornalismo da Unifai, na Vila Mariana.
Participei da mesa, como representante dos professores, e a resposta foi para um dos estudantes – se bem me lembro, seu nome era Bispo – que questionou, na ocasião, a linha editorial do sempre discutível jornalismo global.
Achei a pergunta oportuna e, confesso, temi pela resposta do Nascimento. Espero que me entendam. É sempre uma saia justa para quem está na mesa ao lado do convidado-palestrante. O cidadão reserva um horário da sua agenda, não recebe nada (normalmente quando há esses encontros nas faculdades o pessoal vem ‘de boa’), perde um tempão preparando o que vai dizer, adia compromissos pessoais e profissionais e cousa e lousa e maripo(u)sa… E, na hora agá do dia dê, ele é metralhado por uma saraivada de perguntas, digamos, inconvenientes.
Sei, sei, é do jogo. Quem sai na chuva é pra se queimar, como diria o grande e saudoso filósofo contemporâneo Vicente Matheus. Mas, eu ali na tribuna, fico sem graça pra caramba nessas ocasiões.
Nesse dia mesmo, houve um bate-boca com um grupo de uma ONG de afro-descendentes que queria monopolizar o debate (que era de jornalismo) para as questões do preconceito no Brasil.
Enfim…
Voltemos àquela manhã, e à resposta de Nascimento para questão da malfalada parcialidade da Globo.
Achei a postura de Nascimento digna, embora genérica. Bispo e a plateia preferiram não aprofundar o tema. Até porque o fato de Nascimento já estar em outra Casa, de alguma forma, era uma alforria aos tentáculos da Vênus Platinada.
Conto-lhes essa breve história hoje – e explico o motivo. Ou tento. Toda vez que assisto aos noticiários da TV Globo e mesmo os da Globonews (argh!) recordo-me da fala do Carlos Nascimento naquela longínqua manhã. Pergunto, então, aos meus desgastados botões: os preclaros jornalistas acreditam piamente na versão única que têm dado aos fatos. Ou estão, única e exclusivamente, atendendo a orientação ideológica de seus superiores; patrão inclusive?
Será que não existe um repórter, um editor, um pauteiro interessado em dar o contraditório, aprofundar o outro lado do assunto, questionar os riscos de um golpe, discutir os abusos desta ou daquela investigação?
Enfim…
Compartilho minha inquietação com vocês e recomendo também a leitura da reportagem “O papel da mídia nas manifestações do dia 13”, no Portal da Revista CartaCapital:
http://www.cartacapital.com.br/blogs/intervozes/o-papel-da-midia-nas-manifestacoes-do-13-de-marco
É bem esclarecedor!