Encontraram-se por acaso à entrada do restaurante.
Foram amigos – não sei lhes dizer se continuavam sendo. Uma incerta moça de nome não revelado, mas de beleza, creio, insuspeita, abalou a proximidade de ambos.
A conversa, em tom pouco amistoso, foi inevitável.
– Você viu? Ela voltou pra mim.
– Bom dia, né? Há tempos não nos vemos.
– Tá sabendo, não tá?
– Sobre…
– Eu e ela estamos juntos de novo, e agora é definitivo.
– Que bom. Faço gosto. Ela merece ser feliz.
– Sou o homem da vida dela.
– Que legal! Então, estão bem?
– Ótimos. Ela me disse que cansou de aventuras. Quer uma vida de verdade.
– Não sei se o que vivemos, ainda que brevemente, pode ser chamado de aventura. Eu daria ação ao verbo. Ela queria aventurar-se. Na vida e no amor.
– Foi um vacilo, ela reconhece.
– Ou a consumação de um desejo maior.
– Como assim?
– Não sei se há uma explicação.
– É, pode ser. Mas, o certo é que agora estamos juntos, e felizes, repito.
– Talvez, o incerto que vivemos tenha sido essencial para que hoje vocês se entendam… Talvez, eu disse. Não sou o senhor da verdade; aliás, não tenho certeza alguma. Vivo e deixo viver. Vale o momento, o encantamento do que se sentiu – e sente.
– Não ouse procurá-la.
– Fique tranquilo. Me perdoe a indiscrição, mas foi intenso o que vivemos, eu e ela. Mas, passou. Ela sempre soube que sou passo; não, o caminho.
– Como assim?
– Deixa pra lá, a vida tem lá seus mistérios. Foi bom vê-lo com saúde. Minhas recomendações à…família. Vou indo, adeus.
– Adeus!
*Nota do cronista
É só o registro do encontro de dois amigos, ou ex-amigos, separados por formas diferentes de amar a mesma mulher. Não façam, queridos leitores, ilações com os dias atuais. Afinal, como diz a ‘memê’ que circula pela aí, é preciso amar as pessoas como se não houvesse eleições.