A jovem me pergunta sobre o que exatamente quer dizer a expressão “uma ova” tão em voga nas redes sociais nos últimos dias a partir do sapeca-iaiá que a candidata Luciana Genro (PSOL) deu no tucano Aécio Neves em pleno debate dos presidenciáveis, promovido pela CNBB, na noite de terça-feira.
Delicada, ela me pergunta se “uma ova” pode ser a camuflagem de um sonoro e retumbante palavrão, tipo…
Bem, deixa pra lá.
Acho que vocês me entenderam.
II.
Não sou exatamente um prof. Pasquale para dirimir tais dúvidas do idioma.
Mas, vá lá, pelos meus ralos cabelos brancos, a barba grisalha, a idade avançada e o jeitão de quem já viveu o que tinha para viver, a moça me credenciou a falar sobre o palpitante tema – e eu não posso me fazer de rogado.
Digo a ela que o sentido mais amplo da expressão é o de “coisa nenhuma”.
Luciana, a candidata, poderia ter dito naquela ocasião:
“Com todo respeito, candidato, mas linha auxiliar do PT, coisa nenhuma”.
Mas, ressalto a ela e a vocês, não haveria o mesmo impacto que “uma ova” causou. Se bem que todo o pronunciamento da candidata estava muito bem articulado – e a expressão serviu mesmo para consolidar o chumbo-grosso que veio antes e depois dela, com a citação dos escândalos dos governos tucanos e aquela história de aeroporto nas terras da própria família.
III.
Reparo no semblante de minha interlocutora, e percebo que ainda não está satisfeita com a explicação. Tem um sorriso leve no rosto, como a dizer ‘não estou satisfeita’.
Então, retomo a palavra.
– Olha, digamos que o tom da resposta causou todo esse barulho porque não é comum em um debate formal de presidenciáveis, repleto de regras que engessam a fala dos candidatos, alguém usar uma expressão tão popular, tão direta, tão contundente. Esse tom de transgressão às normas é raro em ocasiões como essa e caiu muito bem entre os jovens. Tem uma bem-vinda rebeldia aí.
Ela continua em silêncio, como querendo me dizer algo.
IV.
Todo professoral, tento fechar o meu pensamento.
– Foge do que chamamos de norma culta, beira a linguagem chula, mas não tem a deselegância de um palavrão. Não acha?
“Acho, agora acho, professor. Mas, que não saiu um palavrão ali, olha, foi por pouco…”