Ao ver o meu desencanto, o amigo me diz:
“A cada dia, a sua agonia, Rodolfo. Já vivemos dias piores”.
A amiga, que nos acompanha, também intervém – e se revela a militante de outros tempos:
“Lembra? O Congresso também vetou as Diretas. Fomos para as ruas e praças e, meses depois, um civil ocupou a Presidência da República. Nós vencemos”.
Vencemos?
II.
Faço a pergunta a mim mesmo, silenciosamente.
Nada respondo.
Não gostaria de magoá-los, com minha sincera impressão.
Gostaria, sim, de acreditar.
Assim que ambos se afastam, e eu me vejo só, se apossa de meu troncho pensar a análise da trajetória que percorremos até os dias atuais .
III.
Em janeiro de 85, por vias indiretas, o Colégio Eleitoral preferiu Tancredo Neves, um hábil articulador de priscas eras, a Paulo Maluf, então a expressão civil da ditadura.
Tancredo não era propriamente um progressista. Tinha um perfil mineiramente conservador. Foi a solução que se pôde e fez. Para o bem ou para o mal, nunca saberemos.
O homem não chegou a tomar posse.
E uma tristeza imensa se abateu sobre o povo brasileiro.
IV.
Em acordo de conveniência (que tirou o presidente da Câmara, Ulysses Guimarães, da sucessão), assumiu o vice José Sarney que, sejamos francos, fez o que hoje faz Michel Temer, só que na mão inversa, mas com os mesmos fins. Bandeou-se do PDS, sigla que sustentou o regime ditatorial, onde era um dos próceres, para o MDB quando sentiu que perdera espaço a partir do avanço do malufismo no partido governista.
Ou seja, a transição acordada, da ditadura para as lides democráticas, se transformou em mais do mesmo.
Retomo a pergunta.
Vencemos?
V.
Reconheça-se.
Houve avanços no campo da democracia. Especialmente pelo afastamento dos militares do centro das decisões. Mais por vontade do comando da corporação do que por se sentirem obrigados a tal.
A bem da verdade, administrar o País tornara-se um grande enrosco para os eles, os militares.
Militares da ultradireita insistiam em agarrar-se ao poder, inclusive com ações violentas (estouravam bancas que vendiam jornais alternativos, houve o atentado ao Rio-Centro, entre outras mazelas).
Mas, creiam, um certo bom-senso prevaleceu.
E assim um civil, Sarney, se fez presidente .
(Melhor não falar do Plano Cruzado e os atropelos inflacionários daqueles dias.)
VI.
Aos trancos e barrancos, chegamos às eleições presidenciais pela escolha popular, em 1989, vinte cinco anos depois do golpe civil-militar que nos jogou em um tempo sombrio e de amarga lembrança
Quem venceu?
Fernando Collor, o caçador de marajá, inventado pela Globo e a representar os mesmos Donos do Poder de sempre.
Foi o personagem que estes (os Donos do Poder) encontraram para combater a ameaça do incendiário Brizola e do sapo-barbudo Luiz Inácio Lula da Silva. Um ou outro ameaçava chegar ao Palácio do Planalto.
VII.
Deu no que deu.
O descontrole institucional, econômico e social inflado do voraz apetite de Fernando, o Belo não perdia sequer campeonatos de Surfe Ferroviário, como ironizou Ben Jor na letra da sacolejante “WBrazil”
Ainda hoje há quem pergunte se todo o dinheiro (lembram a intervenção nas poupanças?) foi devolvido quando setembro chegou.
Mesmo assim, sua queda não estava nos planos da Tigrada. Mas, o Pimpão exagerou e, sem controle sobre os atos do rapaz, trataram de se livrar dele assim que puderam.
VIII.
Não sei se é o ceticismo que me ataca desde então; mas, não me iludo muito com a coisa dos Caras Pintadas nas ruas.
Mais uma artimanha midiática – que contou inclusive com o enredo de uma série global O Que É Isso, Companheiro, baseado no livro de Fernando Gabeira – do que propriamente uma mobilização política e social.
O impeachment (que acabou em renúncia) dava a sensação de que haveria mudança.
Mas, tudo continuou exatamente igual.
IX.
Antes de continuar meu relato pretensamente histórico, creio ser importante esclarecer sobre os tais Donos do Poder.
Lá nos anos 70 nós os chamávamos de Sistema. Tudo era culpa do dito-cujo.
Nossas encrencas passavam pelos seus desígnios, inclusive a mão pesada da ditadura militar em que estávamos metidos.
Mas, quais são esses predadores, afinal?
Tento dissipar o enigma, ainda que sumariamente.
São os que se curvam aos interesses internacionais, mais precisamente aos ditames norte-americanos na diplomacia. Os que se dobram ao deus-mercado e ao voraz apetite dos senhores da FIESP em detrimento aos programas sociais. Os rentistas. Os que se insurgem pela precarização das leis trabalhistas. E, sobretudo, os que promovem loteamento dos bens nativos, a começar pelo pré-sal, fonte de interesse e cobiça do oligopólio de empresas americanas.
X.
Isto posto, seguimos o relato.
Passo seguinte. Itamar Franco, o sucessor de Collor.
Tido e havido como um simplório, soube tocar uma recheada agenda de avanços democráticos e, mesmo com seus percalços carnavalescos (quem se lembra?), foi hábil na escolha das prioridades: a estabilização da moeda e o combate à inflação.
Houve, a partir daí, nítidos reflexos no campo social.
XI.
Embicávamos a vitória final com FHC presidente?
Aproveito a pergunta para oportunizar (gostaram do termo?) que as expectativas eram muitas, grandiosas.
Na Universidade de São Paulo, nos tempos do curso de jornalismo na Escola de Comunicações e Artes, em plenos anos 70, quando a ditadura e a repressão se faziam mais intensas, o nome do sociólogo Fernando Henrique Cardoso, então no exílio, frequentava o panteão da intelectualidade nativa. Tê-lo como presidente, ainda que, vá lá, 20 anos depois, era uma miragem. Entendia-se então que o país estaria com um pé na contemporaneidade. A um passo da conclamada justiça social.
Era o que, diziam, ele prometia em seus livros e ensaios acadêmicos.
Era uma tese ingênua, creio. Como veremos a seguir.
XII.
O neoliberalismo logo se fez a pedra de toque do seu governo, de oito anos.
O príncipe dos sociólogos não nos poupou de quaisquer dos procedimentos econômicos inerentes ao sistema. Inclusive a flagrante subserviência aos ditames do Fundo Monetário Internacional.
Houve a estabilidade da moeda, sim. Conquistas democráticas, também. Mas o salário ó…
O mínimo, quando muito, bateu em 100 dólares. Quem se lembra?
Ao longo desse período, a taxa de desemprego acumulado chegou a 38 por cento.
Ô memória fraca, os “fiespinos” têm…
XIII.
E, dá-lhe!, as privatizações.
No bojo de todo esse arsenal de maldades com o povão.
(Um pirulito para quem se recorda de FHC chamando os aposentados de ‘vagabundos’).
Enfim…
No embalo dessas maldades, um pipocar de escândalos: o da compra de votos para a reeleição, o da pasta cor de rosa, o das Ilhas Caymann, o das privatizações, a denúncia do jornalista Paulo Francis sobre as mazelas da Petrobras, entre outros.
Tudo (in)devidamente varrido para debaixo do tapete, com a leniência dos jornalões, resvistas e telejornais, e o olhar morno da Polícia Federal.
Dizia-se à época que tínhamos um Engavetador Geral da República.
XIV.
FHC sai em baixa do governo.
Despedaçou-se assim o projeto do PSDB de ficar ao menos 20 anos no poder.
Vou-lhes ser sincero.
Tinha uma coluna semanal. Critiquei pra caramba o Governo FHC (essas crônicas estão reunidas no e-book Das Coisas Simples, Sensatas e Sinceras).
Mesmo assim, meus caros cinco ou seis fiéis leitores (se é que ainda estejam por aí), a impressão é de que caminhávamos, seguíamos em frente.
Havia o projeto de dias melhores.
XV.
Confesso que me enrosquei nesse arrazoado de reflexões sobre os passos que demos nos últimos 30 anos que hesito em por quais caminhos seguir.
Prometi que o terminaria neste sábado – e cá estou, plena manhã de domingo, a teclar sobre o assunto que, nessa altura do campeonato, parece interessar mais a mim mesmo do que aos meus incautos leitores – se é que ainda andam por aí.
A incômoda pergunta que me surgiu lá no primeiro capítulo – “Vencemos?” –, a cada alinhavo de frase, me parece TEMERosamente (ui!) sem resposta.
Enfim…
Sigamos.
XVI.
Como é amplamente conhecido de todos os seres vivos que habitam a Terra Brasilis, após três tentativas frustradas (em 89, 94 e 98), Lula se elege presidente da República em 2002. Vence mesmo com toda a resistência do “establishment” (outra expressão que lá nos idos de 70 determinava o conluio de forças dos mandachuvas de sempre).
Houve um vale tudo para dissuadir os eleitores a votarem no ex-metalúrgico. Desde a alta do dólar à manipulação descarada dos meios de comunicação. Sem falar de ameaças de toda sorte – ou seria azar?
Ele, os petistas e os movimentos sociais incendiariam o Brasil.
Era o que diziam…
XVII.
Mesmo assim – e com tudo contra -, o homem venceu e, queiram ou não reconhecer, deu uma cara de Brasil ao Brasil que antes se grafava com “z”.
Foi “o cara”, como disse Barack Obama em certa ocasião, do diálogo e da conciliação.
Aliás, por essa época, ele mesmo se definia como “Lulinha, Paz e Amor”.
Avançou com o Plano Real, com a estabilização da economia, incentivou o consumo e, sobretudo, fez fortes investimentos no campo social. Retirou milhões e milhões da pobreza, combateu a miséria absoluta que grassa em vários pontos deste Brasilzão de meu Deus e impressionou o planeta no primeiro mandato.
Vencemos, então? Finalmente.
Quase isso.
Andávamos felizes, mas havia quem desconfiasse.
XVIII.
Para que o Brasil caminhasse firmemente para o tal futuro promissor – e em nome dessa tal de governabilidade – o Governo Lula optou por ‘fechar’ alianças com partidos e personagens que antes lhes causavam ojeriza, repugnância até.
Lula pensava na reeleição também, óbvio.
Mas, desagradou parte dos aliados de esquerda que, com razão, se viram preteridos do processo e do centro das decisões.
Enquanto isso, segmentos do próprio PT adotaram, como prática digamos de governança e de arrecadação de fundos para campanhas eleitorais, expedientes espúrios que antes tanto combateram.
Quando explode o escândalo do ‘mensalão’, vem abaixo todas as conquistas que se fez no período.
Grossos setores da sociedade – que, a bem da verdade, nunca simpatizaram com Lula e o PT – tiveram arsenal suficiente para ir à forra.
XIX.
Para a celebração dos oposicionistas, o PT é contemplado com a pecha de ser mais do mesmo.
Pior.
A partir de uma nunca vista virulência midiática, o PT ganha a marca de ser o partido que inaugurou e sistematizou a corrupção no Brasil.
Era o que precisavam, era o que agora tinham.
XX.
Mesmo com toda a campanha contra ele e seu partido, Lula emplacou o sucessor em 2010.
Ou melhor, sucessora.
Para espanto dos detratores e de largas fatias da sociedade – especialmente, no sudeste –, Dilma Rousseff se transformou na primeira mulher a tomar posse na Presidência do Brasil.
Sua biografia – ex-guerrilheira, presa e torturada pela ditadura militar e administradora de convicções firmes e determinadas – teve repercussão favorável de início.
Mas, não por muito tempo.
XXI.
Desconfio que mais esta derrota eleitoral foi uma surpresa para os tucanos e seus simpatizantes. E é exatamente aí que começa, creio, o divisionismo “entre nós e eles” que hoje assola implacavelmente o país.
E que se enraizou ainda mais a partir das manifestações de 2013.
XXII.
Mas, antes de seguir o relato, voltemos aos primeiros anos da administração Dilma. Amparada na cartilha pré-estabelecida pelo governo anterior, não houve maiores sobressaltos. Transitou-se com certa tranquilidade pelo período, mesmo com o tom de críticas cada vez mais beligerante a partir do aprofundamento e das prisões da turma do “mensalão”.
Mesmo com os pilares econômicos profundamente afetados pela crise mundial que teve seu ápice em 2008 (há um filme ótimo sobre o que detonou essa debaclê, A Grande Aposta. Vale a pena ver), o Brasil não enfrentava maiores dificuldades.
Havia pleno emprego, um razoável aquecimento do consumo e as taxas de popularidade da presidente – que preferia ser chamada de presidenta – continuava nas alturas. Entre 60 e 70 por cento.
XXIII.
Uma breve pausa, explicativa.
Em 2012, o Partido dos Trabalhadores ganhou a Prefeitura de São Paulo, com Fernando Haddad, ex-ministro de Lula.
Entendo que esse foi o sinal de alerta para os oposicionistas, de todos os costados e mesmo para alguns supostos aliados: ou desconstruíam o ‘monstro’ ou toda e qualquer aspiração eleitoral estaria comprometida.
Com tamanha aprovação popular, Lula elegeria, sempre que quisesse, até um poste.
XXIV.
Havia um campo fértil para essa tarefa.
Mesmo com os avanços e as conquistas, o exercício do poder deixou o PT em muitos flancos bastante vulnerável. A começar pelo deplorável ‘mensalão’. Mas, vale citar também o distanciamento dos movimentos populares, alianças cada vez mais suspeitas, pouco investimentos na educação, o isolamento dentro do próprio partido, a falta de diálogo com as diversas camadas da sociedade e sobre tudo a dificuldade de articulação política da presidente e seus próximos, entre outras tantas e tamanhas derrapadas.
Nesse contexto, condenável sobre todos os pontos de vista, colou no PT a imagem de que o partido professava uma verdade quando na oposição, mas ao chegar ao Planalto se especializara em repetir as práticas mais condenáveis para ali, no poder, se perpetuar.
Mas, houve um momento em que tudo isso ameaçou ruir – se é que não começou a ruir desde então.
Fazem ideia qual?
XXV.
Acertou quem cravou a resposta nas manifestações de rua que se iniciaram em junho de 2013.
Estou para dizer – se há um exagero nisso, perdoem-me – que o país nunca mais foi o mesmo depois daqueles atribulados dias. Para o bem e para o mal.
Aliás, já fiz algumas alentadas leituras sobre o fenômeno. No entanto, não houve autor que me explicasse, com objetividade, o que de fato ocorreu naquele atribulado período entre a Copa das Confederações e o Mundial de 2014, de triste lembrança.
Vou lhes dizer que as questões ainda hoje permanecem sem respostas convincentes.
XXVI.
Como um movimento que começou se indispondo contra o aumento das tarifas dos transportes públicos “colou” implacavelmente em três figuras que, em primeira instância, nada tinham a ver com a reivindicação. Em duas ou três semanas, despencaram os índices de aprovação da presidente Dilma, do governador de São Paulo, Alckmin, e do governador do Rio, Sérgio Cabral.
Os políticos, indiferentes de partidos, também saíram chamuscados no processo.
Celebrou-se, aos quatro cantos, o refrão:
“Vocês não me representam.”
XXVII.
Ok! As investigações sobre as mazelas da Petrobras já ganhavam manchetes – e se aprofundavam.
O caldeirão das indignações transbordava.
Mas, quem articulou aquela histeria toda em cidadãos de diversas matizes políticas e ideológicas e a fim exatamente de quê?
Contra quem?
Contra tudo e todos?
Contra o Sistema, o establishment , os que no momento atual se arvoravam em Donos do Poder?
As respostas continuaram evasivas.
XXVIII.
E a nobre imprensa nativa?, há de me perguntar o incansável leitor que ainda aqui me acompanha.
Bem, meus caros, a imprensa – a chamada grande imprensa escrita, falada e televisada, como se dizia nos antigamentes, e agora também internatada, é um capítulo à parte nessa história.
Começou de um lado ao classificar os manifestantes de baderneiros, mas, de repente, mudou o discurso e tratou de desqualificar a classe política e os governantes a razão de todos os nossos males e do ruidoso descontentamento,
XXIX.
Outro ponto que acho importante salientar: consolida-se um perigoso desequilíbrio entre os três poderes legalmente constituídos.
Desde o desenrolar do episódio do mensalão, o Judiciário passa a ser ‘santificado’, como o Salvador da Pátria, enquanto o Executivo e o Legislativo são constantemente criticados e, em última instância, passam a viver dias de descrédito absoluto.
Há quem diga que fizeram (e fazem) por merecer.
De qualquer forma, vale preocupar-se com a situação.
Uma velha máxima do juridiquês afirma, com alguma razão: toda vez que o ideário político ou partidário invade o tribunal a Justiça sai pela outra porta.
XXX.
Quem viveu há de se lembrar: entre 2013 e 2014, o País foi sacudido por manifestações contínuas por motivos os mais diversos.
Era recorrente o refrão que turba cantava à exaustão:
Não vai ter Copa!
Não vai ter Copa!
Teve.
Com relativa tranquilidade, diga-se.
A gringaiada que nos visitou até que ficou bem impressionada com os encantos do pa_tro_pi.
(Saltemos esse momento que, no âmbito esportivo, revelou-se uma catástrofe sem precedentes. A seleção brasileira em campo foi um fiasco.)
XXXI.
Assim que a Copa terminou, a campanha eleitoral começou para valer, com os barões dos votos bradando suas armas para todos os moinhos. O embate foi dos mais contundentes – e raivosos – da história recente do País.
Como de hábito dezenas de contendores se alinharam na linha de partida. Sobraram bordoadas para todos os lados. Mesmo assim, Dilma (contrariando todas as expectativas), Aécio e Eduardo Campos despontaram como favoritos.
Uma das contendoras, Marina Silva, não conseguiu homologar sua candidatura por um vacilo junto à Justiça Eleitoral. Seu partido, a Rede, não conseguiu registro em tempo hábil.
Marina, que já havia concorrido em 2010, bandeou-se para o PSB, causando muito barulho na corrida eleitoral e uma significativa mudança nas pesquisas de intenção de votos.
O que mais chamava a atenção, no entanto, era o clima absolutamente bélico que pairava entre os candidatos.
Não preciso dizer, mas digo, que a mídia aproveitou essa atmosfera de FlaFlu e, não seria exagero dizer, que ateou um tantinho mais de combustível nessa fogueira.
Inevitável que essas dissensões repercutissem junto ao eleitorado e, também ali, cavasse um profundo buraco entre os diferentes.
XXXII.
Nada, nada mesmo, se comparou ao espanto que todos viveram – eleitores e candidatos – quando aconteceu a trágica morte de Eduardo Campos em um acidente aéreo.
Foi em agosto quando Campos se consolidava na vice-liderança das pesquisas de intenção de votos e já se prognosticava um ascensão de seu nome junto a outros tantos segmentos da sociedade brasileiras – especialmente, no Sul e Sudeste.
Importante salientar que estava claro para muitos a construção de uma candidatura que fosse anti-Dilma. Que satisfizesse todo o espectro de descontentamentos que havia em relação a Dilma, a Lula e ao que se denominou de lulopetismo.
Nesse sentido, Eduardo Campos era o nome mais promissor.
XXXIII.
O trauma perdurou por alguns dias, mas não amainou o tom das discussões em torno dos nomes dos candidatos.
O inevitável se deu: Marina assumiu o lugar de Campos na cabeça da chapa do PSB e também disparou nas pesquisas.
Os então favoritos Dilma e Aécio trataram de, cada um a seu modo, desestabilizar a nova candidatura com críticas pesadas.
A temperatura subiu no horário eleitoral e na cobertura da mídia sobre a corrida presidencial.
XXXIV.
Esse rodamoinho de fatos e novidades, de troca de farpas e acusações, caracterizou as últimas semanas da campanha.
As forças se equilibravam – e foi-se para a votação do primeiro turno com um cenário não muito claro de quem sobreviveria à vontade das urnas.
Votos apurados. Deu o óbvio.
Dilma e Aécio disputariam palmo a palmo o segundo turno.
XXXV.
Antes que me perguntem, vou logo respondendo: não perdi de vista a pergunta que motivou esse longo conversar – oito dias, com o post de hoje – sobre os desafios do Brasil de hoje e de nossa frágil democracia.
Vencemos?
Foi a pergunta que fiz a mim mesmo após ouvir a amiga lembrar os tempos de militância pelas diretas e pela redemocratização em tempos idos e vividos. Tempos em que o sonho era uma promessa de dias melhores para todos os brasileiros.
“Lembra? O Congresso também vetou as Diretas. Fomos para as ruas e praças e, meses depois, um civil ocupou a Presidência da República. Nós vencemos.”
E no tal exercício de lembrar acabei por me perder na sinuosidade do caminho percorrido…
XXXVI.
… até a vitória de Dilma na eleição de 2014.
Essa vitória não estava nos planos das forças políticas e econômicas que sempre foram hegemônicas no Brasil desde que as caravelas da Terra Mãe aqui chegaram. Uma vitória não digerida desde as primeiras horas que as urnas foram abertas.
A vantagem que o Sul e o Sudeste davam para Aécio Neves era enorme. No entanto, com o avançar da contagem de votos – com uma hora de atraso, por questões de fuso horário – do Norte e Nordeste promoveu a virada inesperada, o que fez aflorar ainda mais o sentimento de País dividido que hoje se vive. O tal climão entre “nós e eles” que citei tantas vezes no decorrer dessas reflexões.
XXXVII.
Aliás, como pude demonstrar – espero –, não minimizo a tibieza da Senhora Presidente ao tentar dar um norte para o seu segundo mandato. Inclui-se aí as críticas mais contundentes que se faz na área econômica (prometeu ir para um lado, foi para o outro), a falta de diálogo, o isolamento nas decisões, o afastamento das bandeiras pelas quais foi eleita.
Reconheço também que não foram – e não estão – sendo fáceis os enfrentamentos que tais forças a submetem dia sim e outro também. Inclusive, e principalmente, a chamada grande imprensa. Que mais conspira do que informa.
De todas as formas, tenho cá minhas desconfianças (que a cada dia ganham contornos mais reais). A principal delas: este passo que, neste momento, damos para um estado de inconstitucionalidade (embora tenha uma camuflagem de legalidade) configura-se um retrocesso aos olhos do mundo. E perante nossas mais almejadas convicções democráticas.
XXXVIII.
Não sei quanto tempo vamos levar para por a casa em ordem. Pode ser – repare, eu disse “pode ser” – que toda essa efervescência de denúncias e escândalos sirva para forjar um novo País, mais justo, mais solidário, e contemporâneo.
Temo, no entanto, que essas feridas causadas pelo divisionismo exacerbado não cicatrizem assim tão rapidamente. E aí nos encaminharíamos para o retrocesso e o descontrole social.
Não tenho a resposta definitiva para a pergunta-chave e motivadora.
Vencemos?
Ainda não, mas continuaremos na lida.
E acreditando…
Até porque essa garotada secundarista, que foi para a luta, é mesmo de renovar a esperança em um Brasil de todos os brasileiros.
XXXIX.
Termino.
Ufa!
Não sei se escrevi tudo o que gostaria.
Mas, certamente, não escrevi uma palavra que não quis.