“Nos jornais, o efeito do computador foi muito maior do que o fim da lauda rabiscada e da prova de paquê. O computador restabeleceu o que não existia nas redações desde – bem, desde as penas de ganso. O silêncio. Um dia alguém ainda vai escrever um tratado sobre as conseqüências para o jornalismo mundial da substituição do metralhar das máquinas de escrever pelo leve clicar dos teclados dos micros, que transformou as redações, de usinas em claustros. A desnecessidade do grito para se fazer ouvir mudou o caráter do jornalista para melhor ou o fim da identificação com um honesto e barulhento trabalho braçal lhe roubou a velha fibra?
Talvez ainda seja cedo para saber.”
II.
Transcrevo trecho da crônica de Luiz Fernando Veríssimo (A Troca, publicada em O Estado de S.Paulo, em 12 de setembro) porque sou simpático ao assunto.
Talvez fosse mais apropriado dizer: nostálgico, saudoso.
Aliás, o meu segundo livro “Meus Caros Amigos – Crônicas sobre jornalistas, boêmios e paixões” nasce exatamente desse meu estranhamento nas visitas que, vez ou outra, faço às redações. Como escrevi na apresentação do livro, fico surpreso com o tom civilizado das conversas entre jornalistas, “Mas o que mais me entristece é que não mais ouço ali o toc-toc-toc intermitente, a rapsódia das máquinas de escrever, quase encoberta pelo vozerio da rapaziada no delírio do fechamento.”
III.
Meu filho, jornalista da nova safra, me diz que no online o ‘fechamento’ se dá minuto a minuto.
Deve ter aí seus encantos.
Não ouso perguntar quais.
É provável que não soubesse reconhecê-los.