Foi apenas um susto. (Ainda bem!)
O Rei Pelé teve alta e, à saída do hospital em São Paulo, a Fera mostrou o habitual bom-humor aos ver os repórteres e fotógrafos de plantão na calçada fronteiriça ao edifício, a esperá-lo como nos bons tempos em que singrava pelos gramados do Planeta.
Abaixo os vidros do carro em que estava, acenou para os jornalistas e brincou:
– Já estou pronto para o jogo de amanhã. Abraços.
A alegria era do indestrutível Pelé. O brilho nos olhos era de quem, depois do sufoco, está de volta ao jogo da vida.
Salve o Rei!
Viva o Rei!
II.
A brincadeira de Pelé involuntariamente me remete à velha questão, transcendental aos boleiros mundo afora: o momento de parar. De deixar de ser atleta – o super e festejado atleta – para ser mero mortal, longe da luz e do palco que o consagrou.
É sobejamente (sempre quis usar essa palavra em uma crônica) conhecida a frase de Paulo Roberto Falcão, o Rei de Roma:
“O jogador de futebol morre duas vezes. A primeira quando para de jogar”.
Faz todo o sentido.
III.
Fico em exemplos recentes: Romário, Rivaldo, Marcão e agora todos vivemos a expectativa da anunciada (será?) aposentadoria do goleiro Rogério Ceni.
(Será que ele para mesmo ao final do ano?)
“É bem provável”, me disse um dos plantonistas diante do hospital, depois que o bololô se desfez à passagem do Rei.
E completou:
– Mas, atleta, atleta, esses supercraques nunca vão deixar de ser.
IV.
E citou, rindo, o caso de Pelé.
Não é improvável imaginar que, lá em seu íntimo, as palavras do Rei não manifestaram, ainda que ilusoriamente, um íntimo desejo de estar em campo hoje e sempre.
A bem da verdade, reconheci ali e agora aos meus caros cinco ou seis leitores, era tudo o que nós, humildes geraldinos e arquibaldos, mais queríamos: ter o Rei de volta aos gramados.
Já imaginaram?