Ele me diz que gostaria de reencontrá-la.
De alguma forma, talvez tenha sido o jeito com que falou, me senti cúmplice do rapaz que mal conheço e que conta sua peculiar história de um quase romance, em tom de desabafo.
– Na verdade, nunca houve nada entre nós. Somos de mundos diferentes. Mas, me fazia tão bem vê-la por perto.
Não tenho a proximidade suficiente para pedir detalhes do enredo, mas o meu interlocutor não se faz de rogado. Entende meu silêncio e meu olhar como sinais para que continue a conversa:
– Toda vez que nos encontrávamos era de um encantamento único, não sei lhe dizer, você entende?
Balanço a cabeça em sinal de dúvida. Mas, me esforço para ter a dimensão de tais encontros.
– Não eram propriamente encontros – ele próprio se corrige. – Víamo-nos em reuniões de amigos comuns, aniversários, comemorações. Ela estava sempre acompanhada. Mas, havia uma sintonia, uma magia, entre nós, era bom demais, você entende?
Começo a me incomodar com essa questão (“você entende?”) antes de lhe responder me esforço para imaginar a cena. Ela com o garotão do lado, chegando a uma festa a procurar com os olhos pelo amigo ‘pimpão’ (que não é tão meu amigo assim, nem me parece ‘pimpão’ o suficiente a ponto de destroçar corações, enfim…).
Ele se dá conta da minha ignorância no assunto – e ameaça encerrar o assunto.
– Sem maiores explicações, fiquei sabendo que ela está em outra e deixou de frequentar nossa turma. Alguma aconteceu – e eu nem fiquei sabendo qual foi. Olaiá. Até do grupo de whatsapp, ela saiu.
“Aí é barra”, concluí com ares de quem conhece profundamente o peso e importância das tais redes sociais.
Recomendo ao novo amigo que leia “Amores Líquidos”, do sociólogo Zygmunt Bauman. A obra já tem um tempinho e fala exatamente desses sentimentos fortuitos e intensos, tão em voga nos dias atuais, que um sessentão como eu custa a entender. Mas, não o reprovo, nem o desanimo.
Lamento que a moça se foi, digo. E faço uma sugestão:
– Por que você não a procura?
Minha pergunta o deixa em pânico.
– Como assim?
– Procurando ora… Pergunte pra um, pergunte pra outro – e vai em frente até chegar a ela. O mundo não é tão grande assim.
– Não é a mesma coisa, ele desconversa, com a expressão de quem acabara de ouvir um absurdo sem tamanho e rebate:
– E o mistério, e a magia, e o encantamento? Ela mal me conhece…
Desisto de entender. Mas, gostaria de estar presente caso houvesse mesmo, um dia, esse reencontro. Desconfio que não daria em nada.
A impressão é que hoje o pessoal gosta mais de imaginar do que de viver.
Você entende, caro leitor?