Esta pergunta vai para o PVC, o Avallone, o Mauro Betting, o Hugo Giorgetti e o Moacir Franco, além de outros tantos palmeirenses históricos.
“Vocês se lembram do Cruz?”
II.
Antes que me respondam, tento lhes avivar a memória (e já lhes aviso que sem recorrer ao Google e outros recursos afins):
Cruz foi um ponta esquerda que apareceu no Palmeiras no início dos anos 60.
Adivinhem a nacionalidade do cara?
Acertaram.
Era argentino – e veio junto com um lote de jogadores que Palmeiras adquiriu, aqui e ali, com o dinheiro da venda do ‘pequeno notável’ Chinesinho para a Itália.
III.
A equipe não andava bem (é certo que não chegava aos rigores de hoje) – e ainda, por cima, havia o Santos de Pelé & Cia para a tudo devastar e vencer.
Eu deveria ter entre dez e doze anos – e não faltava a um jogo do Palmeiras em São Paulo, fosse no Parque Antártica, fosse no Pacaembu.
Lembro que, no início, o cara era vaiado e espinafrado pela torcida.
Ninguém entendia direito o porquê o técnico de então o escalava entre os titulares.
IV.
O pai tinha um amigo que, além de ser dono de uma fábrica de macarrão, era diretor do Palmeiras. Se não me engano, chamava-se Pellegrino – e ele afirmava que era uma questão de tempo o gringo se acertar. Nos treinos, era “um assombro” de dribles e chutes cruzados. Jorge, o lateral direito, reserva de Djalma Santos não conseguia segurá-lo. E o craque Djalma dava graças a Deus por ter o pontinha na equipe titular.
– O Djalma é esperto, tem um nome a zelar – dizia o pai, que nos repassava (a mim e aos garotos da Muniz de Souza) a informação, sempre com um sorriso maroto, de quem conta a história, mas não se responsabiliza por ela.
V.
Não sei exatamente o momento que foi, mas de repente o homem começou a jogar.
Driblava, era veloz, e batia cruzado.
Baixinho, atarracado, era um azougue para os laterais e beques dos clubes paulistas.
Ufa!
Enfim, tínhamos um novo ídolo.
Íamos aos jogos para vê-lo entortar os adversários e, no campinho da rua Piaí, tentávamos imita-lo. Sem grande sucesso, diga-se.
Não lembro se, ao final do campeonato, o Palmeiras foi campeão.
Mas, repito, estávamos felizes (a meninada palmeirense da rua Muniz e a torcida): tínhamos um ídolo.
VI.
De repente, o Diário da Noite estampou a triste verdade na coluna do Antônio Guzman: Cruz voltaria para a Argentina, iria jogar no Independiente de La Plata ou nos Estudiantes, não lembro?
Foi um duro golpe.
Só amenizado pela certeza e o sorriso maroto do pai:
– Não falei que o gringo era bom? Então, logo logo vem outro…