01. Olhos, ouvidos mentes e corações dos paulistas estão todos voltados (e nem poderia ser diferente) para a eleição de domingo, quando se decide quem será o futuro governador de São Paulo, o Estado mais poderoso da Federação. Creio que nem poderia ser diferente. Maluf e Covas, dois adversários atávicos, enfrentam-se nas urnas como campeões de votos de duas das mais representativas linhagens da política contemporânea, o malufismo e o tucanato… Digamos que essas escolas têm projeções em âmbito nacional e, reparem a curiosidade, ambas convergem ao PFL, de Antônio Carlos Magalhães. Ele mesmo, que veio a São Paulo, nesta semana, apoiar Maluf, mas em Brasília, há quem afirme, é o grande mentor do presidente Fernando Henrique, o mais emplumado dos tucanos, que flertou em outdoor com Maluf no primeiro turno e agora se anuncia Mário Covas de carteirinha.
02. Se não dá para entender a amplitude dessas alianças, percebe-se nitidamente que joga-se em São Paulo o rumo do futuro político do País. Quem vencer aqui alinha-se como presidenciável em 2002, mercê do governo que realizar (ou anunciar que realizou) e das bênçãos de ACM e FHC. Há inclusive quem insinue que um novo plebiscito vem aí, desta vez com força total para sacramentar o parlamentarismo no bojo da tão sonhada reforma política. Vozes mais entusiasmadas, como só acontece entre os comensais do Palácio do Planalto, antecipam os elogios para o presidente-reeleito. Ele tem o perfil ideal para ser nosso primeiro-ministro.
03. Perceba, caro leitor o que para nós representa um exercício de futurismo, é dia-a-dia para os senhores do Poder. Veja que, nesta semana, Marta Suplicy já insinuou sua candidatura à Prefeitura de São Paulo no ano 2000. Outro candidato derrotado, Francisco Rossi, articula seu futuro eleitoral, a partir do apoio que fez a Paulo Maluf, de quem, aliás, foi secretário de Governo nos anos 70. E notório também o objetivo do PFL de transformar-se, na virada do século, num partido de ponta, com quadro próprio de ocupantes no Executivo e com maior autonomia de vôo. E não apenas ficar dando sustentação a legendas como PSDB e PPB.
04. Um bom indício dos sonhos pefelistas é a presença de Luiz Carlos Santos como vice de Maluf no pleito atual. Santos era do PMDB e ingressou no PFL após servir como ministro, com largo espaço nas negociações políticas, ao presidente Fernando Henrique Cardoso. Ele também participou, como secretário, dos governos Quércia e Fleury e é tido por seus pares, no Congresso, como um privilegiado analista da cena política brasileira e para onde se encaminha o Poder. 05. Em meio a tamanho imbróglio evidencia-se que os reais interesses do Estado ficam em plano secundário. Por isso, muitas vezes, as tais realizações governamentais não batem de frente com as necessidades da gente paulista. Mesmo assim, lá vamos nós, pois, às urnas. Valem-nos mais nossas convicções e observações do que propriamente a confiança nos homens e nas suas misteriosas metas de governo. E a democracia que temos e vamos lapidar a cada eleição, com consciência e participação.