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Título: Viviane deu notícias
Autor: Rodolfo C. Martino - publicado em 16/03/2009
 

O que vou lhes dizer de Viviane que só ontem deu notícias?

Melhor, então, repassar a vocês trechos do email que eu e outros tantos receberam. Não vou lhe pedir autorização para a publicação. Sei que ela me entenderá. A experiência que hoje ela vive é uma grande lição de vida. Por isso, é mesmo uma obrigação reparti-la com o maior número de pessoas possível.

É também minha reverência e homenagem aos jovens que acreditam na construção de um mundo mais justo, humanitário. Mais do que acreditar, trabalham e lutam por essa utopia.

Viviane tem pouco mais de 20 anos...

Leiam!

Meus queridos, escrevo para agradecer a todos o carinho e o apoio que estou recebendo aqui, do outro lado do Atlântico, pela passagem do meu aniversário.

Porém, como disse minha mãe, faltam só 85 dias para voltar...

Aqui, caríssimos, não há telefone público tão pouco correios. Então, por mais que eu queira falar com meu filho, minha família e amigos como vocês, não me é possível.

Deixem eu lhes contar um pouco como tem sido e como são as coisas por aqui.

Luanda é uma cidade bonita. Porém, totalmente destruída por causa da guerra que acabou há tão somente seis anos. É como se o país e as pessoas também tivessem apenas seis anos.

As ruas têm buracos imensos onde se criam poças de águas. O mau cheiro é forte. O trânsito é um verdadeiro caos. Para que vocês tenham uma idéia, experimentem visualizar os congestionamentos das marginais Tiête e Pinheiros em dia de chuva e horário de pico.

Ainda assim, creio, quer perderíamos feio para o que aqui acontece diariamente.

Temos dois tipos de população. A saber:

01. os muuuuito ricos

02. os muuuuuito pobres.

A polícia anda nas ruas como se ainda estivesse em guerra.

Você nem pode olhar muito porque dizem que é perigoso.

As mulheres são lindas, porém extremamente submissas e humilhadas pelos homens. Todas muito bem arrumadas com seus cabelos trançados, mas com expressões sofridas. Vi muitas mulheres com botijões de gás na cabeça, criança nas costas, outra no ventre. E o maridão lá atrás, todo folgado.

A comunidade onde estou trabalhando é pobre demais.

Não conheço no Brasil nenhum lugar com miséria tamanha. Falta água, as ruas são de terra esburacada, repleta de poças de águas estagnadas. As crianças brincam por ali e sobre montanhas de lixo, onde se vê os ratos, insetos...

Hoje chorei ao ver uma senhora recolhendo água com uma canequinha de uma poça e colocando em um balde.
Não duvido que fosse para beber.

Penso a todo momento em meu filho e nas crianças que aqui vivem. Este é um país onde há muitos órfãos.

Desde que cheguei aqui não parei um minuto. Estamos trabalhando pesado na construção de uma escola e não há como este serviço não ser também braçal - e cansativo. Mas, totalmente compensador no sentido humanitário.

Tenho saído de casa cedo e chego tarde em decorrência de tudo, inclusive do trânsito ser muito ruim. Não sei se conseguem imaginar o tamanho do meu desgaste.

Com tudo isso, sinto-me uma privilegiada em estar aqui – e participar deste momento.

Enfim...

Com todas as adversidades, eu vejo muita nobreza em tudo neste povo.

Ainda não tive tempo para chorar a minha saudade.
.
Sei que as pessoas que amo estão muito bem em vista de tudo que estou vivendo aqui na África.

Tenho conhecido pessoas fantásticas e as guardarei para sempre no meu coração.

Um grande beijo fiquem com Deus e cuidem-se.

Viviane

 
 
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