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Título: De tempos em tempos *
Autor: Rodolfo C. Martino - publicado em 12/03/2008
 

Não sei como lhes dizer,
mas me sinto a rodar
na espiral do tempo.

Já sei, já sei o que vão dizer.

Não despiroquei de vez, não.

São coisas que só aqui
podem acontecer.

Querem ver?

Hoje é quase amanhã
e assim será quando eu
terminar de postar o texto de hoje
que, na verdade, se apresentará
como texto de ontem.

Entenderam?

Explico – e rapidinho, pois
se assim for, e tiver tempo hábil,
o post de hoje será o de hoje mesmo,
não o de amanhã que, aliás,
só escreverei amanhã
no decorrer do dia...

Ficou mais confuso?

Então, vamos aos detalhes.

Faltam alguns breves minutos
para a meia-noite,
portanto ainda é hoje.

Ok?

Ok.

Só que nada escrevi.

A vida me levou de roldão.
Não tive como postar.

Entre uma aula e outra,
um compromisso e outro,
os minutos voaram.

Nem percebi.

Não reclamo, não.

É da vida e dos amores.

Melhor viver assim do que
o tédio das horas iguais.

Em casa, com hora e tanto
para a tarefa de postar – que diga-se
cumpro com prazer e alegria –,
o simpático computador
resolveu embaçar a minha.

Não abriu – e não abriu.

Reiniciei dezenas de vezes
e nada de nada...

Recorri, então, ao simpático Word.
Digitei o texto e estou à espera
da boa vontade da máquina.

É o que agora faço.

Se o considerado me der a honra
e facilitar meu trabalho, ainda
hoje cumpro a minha lida diária.

Se continuar dando ‘migué’,
vou ser obrigado a postar amanhã.
Mas, por uma questão de princípios,
vou ao ‘publicador’ e altero a data
e, tal e qual superman naquele filme,
faço voltar o tempo.

Ele fez a proeza por causa
da mulher amada, lembram?

Eu, no melhor estilo Don Quixote,
que não tem qualquer ilusão de
encontrar a sua Dulcinéia,
posso muito bem exercer
meus super poderes
em nome dos meus diletos
cinco ou seis leitores...

Por que não?

É o que farei.
Assim que a net abrir.

A propósito, alguém aí tem horas?

PARTE 2
Com a permissão de todos, quero perseverar por esses próximos dias na temática de ontem: o tempo. Esse tal que, não canso de escrever e lembrar, “não pára no porto, não apita na curva, não espera ninguém” (versos de Reginaldo Lessa).

Do tempo que vem, do tempo que vai.
Do tempo que o tempo tem.
De querer o tempo de volta.
Ou a volta daqueles tempos.

A neura, muitas vezes, é a de sempre:

Não matar o tempo.
Não desperdiçá-lo.
Não perdê-lo.

Não vê-lo esvair-se pelos vãos dos dedos.

Ou no lindíssimo entender de Caetano que fez a sua Oração ao Tempo,
“compositor dos destinos, tambor de todos os ritmos”.

Não me recordo a pretexto de quê, uma das amáveis leitoras deixou, certa vez, comentário no blog para que eu escrevesse sobre o tempo e suas implicações. Se os prezadíssimos tiverem a paciência que não tenho, poderão ver no índice de procura que, vira e mexe, estou aqui a tangenciar o tema – mas enfrentá-lo de frente, é que são elas.

Até porque “ele (o tempo) sabe passar. Eu não sei.”, como ensinou o poeta Aldir Blanc. Mesmo assim, é o que farei a partir de hoje.

Tentarei saldar a dívida com a leitora.

No mínimo, no mínimo, ela (se é que permanece por aqui) e vocês terão algumas histórias curiosas.


I.

A cineasta Izabel Jaguaribe flagrou o dia-a-dia do cantor/compositor Paulinho da Viola em um requintado documentário. Num dado momento das filmagens, Izabel quis saber do artista como era a vida “no seu tempo”. Referia-se obviamente aos anos 60 e 70 quando o sambista despontou com sucesso e a música brasileira vivia um momento riquíssimo, bem diferente dos dias atuais.

Ao ouvir a indagação, Paulinho, que é uma figuraça, arregalou os olhos e tascou:

-- Meu tempo? Meu tempo é hoje...

Resultado:

“Meu Tempo È Hoje” virou título do documentário.

Imperdível.

A trilha sonora, deliciosa, foi lançada em CD pela Biscoito Fino.

II.

Vou vender como comprei.

Portanto, não posso assinar e dar fé.

Mas, é interessante, então vou contar.

Um amigo que entrevistou o Benjor me disse que ele tem verdadeiro horror a alusões ao passado mais remoto. Quando alguém lhe mostra um daqueles vinis antigos e pede para que autografe, ele diz que não dá para assinar porque aquele cara da foto não é ele – é um tal de Jorge Ben.

Brincadeiras à parte, acho que Jorge Duílio Lima de Menezes – o verdadeiro nome deste carioca de Rio Cumprido, já entrado e vivido nos seis ponto qualquer muita coisa – tem lá sua razão.

Nada mais constrangedor do que sentir que as pessoas lhe empurram e confinam a determinada época.

Falo até por experiência própria.

Dá a sensação que você está fazendo hora extra neste mundo.

PARTE 3

IV.

Outra do Nasci.

O Bola era um cara legal, mas sempre foi só.

"Avulso", como o Nasci o chamava.

Até aí nada demais. Cada um, cada um.

O único problema é que ele andava ranzinza.

Colocava defeito em todas as mulheres que o pessoal da Redação arranjava.

Era implacável em seus julgamentos.

Batia de baranga, tribufú e por aí ia.

Não escapava uma.

Um dia o Nasci se invocou e deu troco.

-- Ô meu querido, você manda bem em todos os conceitos sobre mulher. Só que trabalha com a gente há tanto tempo e nunca soubemos de nenhum romance para os seus lados. Me diz uma coisa. Perdoe a intromissão. Você é discreto mesmo ou está a seco todo esses anos?

Assim na lata, diante de todos, o amigo perdeu o chão.

Não soube o que responder.

Então, o Mestre dos Mestres prosseguiu.

-- Então cara, se você gosta da fruta é melhor começar a se interessar pelas moças normais. Ir treinando, sabe? Vai que a Brooke Shields, que você tanto ama, vem ao Brasil e lhe encontra e diz: quero você! E aí? Vai ficar com essa expressão de abadejo em geladeira de supermercado? Já imaginou se ela vier pra cima. Você não vai saber nem por onde começar.

Em três meses, o Bola arranjou uma namorada, noivou e casou.

Radicalizou, eu diria. Mas, não perdeu mais tempo.

V.

Sobre a relatividade do tempo, também vale refletir.

Alguém, desesperado, bate sofregamente na porta do banheiro que está ocupado.

De lá de dentro, ouve a voz:

-- Ei, meu, calma. Dois minutos...

Um fala de instantes, o outro imagina a eternidade.

PARTE 4

VI.

Pois há que se viver enquanto é tempo de...

VII.

Um relato tocante sobre o tempo que não se recupera.

Ela:

Da última vez que eu o vi, pude lhe dizer o quanto estava bonito. Paletó de linho branco, desestruturado, sobre uma camiseta com listas horizontais, finas, em azul e branco. Cabelos em desalinho, raspados na nuca e o mesmo olhar de menino assustado que tanto me encantou desde que eu o conheci.

Ele ficou feliz - e algo sem graça.

Era um homem tímido e sensível.

Fui visitá-lo de surpresa num fim de tarde em seu estúdio de trabalho. Amigos comuns me alertaram que ele não andava nada bem.

Me recebeu como de habito, elegante e afável, apesar do longo tempo em que não nos víamos. Em segundos, recuperamos a antiga cumplicidade.

Quando percebemos já era noite.

Pediu que eu jantasse com ele. Não houve porquê recusar.

Tomamos sopa juntos - ele não podia comer nada pesado.

E ele até me fez uma surpresa.

Havia comprado bombons de damasco que eu tanto gosto. Trouxe em uma bandeja de cristal, alinhados em três fileiras. Ao me oferecer, tinha um sorriso sedutor e travesso.

Perguntei qual a razão daquelas delícias ali, se não podia comer doces. Era muita tentação, como ele resistia?

Precisou de alguns segundos para responder:

-- Fácil. Os bombons e eu esperávamos você.

Vivi uma noite rara. De encanto e delicadezas.

Colocamos a conversa em dia e até falamos confiantes do futuro que, esquecemos naquela fantasia, para ele talvez não existisse.

No caminho de volta para casa, enquanto dirigia meu carro, me veio o sobressalto: a sensação de que não lhe restava muito tempo.

Chorei em silêncio.

Passaram-se alguns dias e ele me ligou.

Conversamos sobre os planos que fizemos.

Em seguida, me fez um convite.

Queria que desenvolvêssemos aqueles projetos juntos.

Insistiu.

Percebi uma certa angústia naquele apelo.

Estava com minha agenda profissional lotada de afazeres. Não havia como escapar desses compromissos. Tentei lhe dizer. Mas, no fundo, eu sabia.

Era uma estratégia.

Ele tinha clareza de tudo.

Mesmo assim, apostou viver cada segundo.

Um gesto de coragem.

Queria alguém ao lado dele, com dedicação integral. Que ficasse o tempo inteiro por perto. Eu...

Não pude aceitar.

Na verdade, não tive forças para aceitar.

Fiquei com medo.

Devo confessar.
Medo de vê-lo morrer,

Foi egoísmo, talvez.

Talvez não estivesse à altura da missão.

Sempre fui muito insegura.

Hoje me arrependo.

O que me custaria?

Por vezes, passamos tanto tempo à toa.

Em outras, nos dedicamos a quem não merece.

Então?

Repito: o que me custaria?

Não há como voltar o tempo.

Que tristeza.

À noite, tem vez que acordo com a sensação de nunca cheguei a lhe dizer, com todas as palavras que ele merecia ouvir, o quanto eu lhe amava e amo.

Mesmo assim, no sonho/delírio, ele sorri compreensivo e, sei lá o motivo, há um perfume no ar. Um perfume bom de chocolate e damasco...


PARTE 5
VIII.

A Menina dos Cabelos Vermelhos me escreve.

Está brava com ela mesma.

Diz que não se perdoa pelo que lhe aconteceu.

Ela acordou, dia desses, com uma baita saudade do ex.

Acho que ela nem gostaria que eu relatasse isso aqui.

Não tenho como escapar.

Sabem o porquê?

Porque foi do email dela que tirei a idéia desta série.

Lembrei de uma internauta que pediu para que eu escrevesse sobre o tempo.

Vejam no que deu.

Já estamos no quinto post – e eu nada disse a Isa, a Menina dos Cabelos Vermelhos ou Levemente Avermelhados, a depender de seus humores/amores.

Então, creio, já é tempo de dizer.

O que sente, Menina, não é exatamente ‘saudades’.

Ou é?

Nunca sei.

Enfim...

Eu chamaria de nostalgia.

Ou seja, a lembrança boa de algo que você viveu num tempo preciso.

Com começo, meio e fim.

A vida é assim.

Bom lembrar.

Bom ter vivido, pois a fez melhor, mais humana.

Iluminou sua existência e a preparou para novos vôos.

Agora aqueles dias – é bom que tenha clareza – você nunca mais viverá.


Simples. Está na canção.

“Nada do que foi será do jeito que já foi um dia”.

É assim.

Poderá -- e certamente há de – viver outros sonhos de amor.

Mais intensos, mais envolventes, mais tudo.

Aquele, porém, nunca mais...


Lembro de um amigo que vivia às turras com a namorada.

Amavam-se demais. Brigavam outro tanto.

Por tudo e por nada.

Iam e voltavam.

Um dia, ele chegava transtornado.

Meia hora e um telefonema depois, estava feliz.

Antes do fim do expediente e após sucessão de ligações, terminavam e voltavam várias vezes.

Os motivos eram sempre os mesmos.

Inexplicáveis à luz do bom-senso de quem estava do lado de fora.

Para eles, porém, bastava um deles para que o mundo ruísse.


Certa tarde, o Nasci falou ao desorientado rapaz que armasse uma estratégia.

À noite, convidasse a moça para ir até sua casa e aí fossem às últimas conseqüências na discussão.

Um detalhe.

Antes, ele deveria ligar um gravador e registrar tudo, tudo o que dissessem...

Levasse o tempo que levasse.

Mas, era importante ir da primeira à última questão polêmica – e, se possível, respeitar a ordem cronológica.

Cada um dos contendores – porque já os entendíamos assim, não eram namorados ou coisa que o valha; eram contendores – deveria ficar com uma cópia da fita gravada.

E ouvi-la à exaustão.

Ouvi-la, ouvi-la, ouvi-la...

Só aí formatar uma parecer. Se deveriam continuar juntos ou não.

O motivo era bem simples para nós incautos ouvintes dos telefonemas.

A cada ligação, diminuía o tempo das promessas e das declarações apaixonadas. Em compensação, aumentava substancialmente a carga horária dos xingamentos e das acusações.

E o Nasci fechou a proposta no melhor estilo.

-- Se insistirem na teimosia de continuar juntos, ao menos vocês brigam só a briga do dia. Na hora que um de vocês, começar com as discussões passadas é só ligar o gravador porque o bate-boca de vocês é sempre igual. No mínimo, economizam a conta do telefone e a nossa paciência.

PARTE 6

IX.

"O tempo é o ponto de vista do relógio."

(Mário Quintana)

X.

O tempo que pára...

... um segundo após
o chute a gol.

Quando o Sr. Imponderável
de Almeida decide a trajetória
da bola, a defesa do goleiro
ou, explosão maior, o gol.

XI.

O tempo que pára...

... no exato instante,
... no preciso momento,
... no minuto final,
... na hora H,
... no dia D,
... entre o raio e o trovão,
... quando o sol bate e se inclina.

XII.

O tempo que pára...

... no apagar das luzes,
... na boca da noite,
... no romper da manhã
com gosto de promessa vã.

XIII.

O tempo que pára...

um segundo antes...

... do cantor soltar a voz,
... do ator soltar sua fala,
... da platéia irromper em aplausos,
... de voltar ao palco
... e agradecer em cena aberta.

Ser protagonista na arte e na vida.
Mas, se quiser fazer figuração...

... também vale.

XIV.

O tempo que pára...

... no precioso instante
em que o amor acontece.

... e se faz a luz.
... e os olhos brilham.
... e o coração salta.
... as mãos se tocam.

O tempo que pára...

... um segundo antes do
primeiro e inesquecível beijo.

Então, então...

... se faz o tempo de encantar-se.

XV.

-- Você é tudo que eu sempre quis. Para sempre.

-- O quê?

-- Você é tudo. Que eu sempre quis para sempre.

-- Não entendi. Diz outra vez.

-- Para sempre. Você é tudo que eu sempre quis.

* Diálogo capaz de fazer o tempo
corar de inveja, morrer de vontade.

PARTE 7

XVI.

Ontem, o nosso site/blog “bombou” no dizer da garotada. Bateu em 150 visitas diárias. Preciso explicar que não sei bem o que é isso. Se 'visita' é diferente de acesso. Ou são uma coisa só. Em todo caso, ao que me informaram, "é uma boa audiência" para um blog solto no web espaço que, de resto, não está sequer pendurado num grande portal.

Ah! É o recorde do ano.

Claro, fiquei bastante feliz.

Espero que vocês também.

XVII.

E pensar que toda a série "De Tempos em Tempos", responsável por esses bons índices, só começou porque, dia desses, fiquei sem tempo para escrever. Cheguei tarde em casa - onze e tanto - e não conseguia acessar a net.

O que não tem remédio remediado está. Para não perder tempo, fui adiantando o texto no velho e bom word à espera da vontade do computador. Enquanto escrevia, pensava em qual data deveria postar: quarta ou na quinta?

Ou seja, me vi diante do inexorável Senhor dos Destinos.

Tempo, tempo, tempo, tempo...

Mas, esta história já lhes contei em Fiz Voltar o Tempo, em 05.03.08

XVIII.

A partir daí, não me saíam da mente o significado e a magia da palavra.

Óbvio que começaram a jorrar histórias, que aqui contei.

Uma após outra.

Apareceram naturalmente como esta que narro a seguir:

XIX.

Foi então que, ao estrondo do abrir de portas do velho elevador, todos puderam flagrar o chefete do Administrativo e a secretária, agarradíssimos, no maior dos beijos.

Diante de tamanho espanto, o responsável pelas páginas de Ciência não se conteve.

-- A pauta é minha.

Se o rapaz do elevador fosse casado, quem sabe a cena resultasse numa boa manchete policial.

Como não era, entendemos as razões do jornalista científico.

Mesmo assim, ele fez questão de explicar:

-- Que fenômeno! Quem disse que dois corpos não são capazes de ocupar um só espaço ao mesmo tempo?

XX.

Assim, de história em história, chegamos – eu e vocês – à sétima coluna.

Teríamos assuntos para outras tantas mais.

Por que?

Ora como entender o hoje sem o ontem?

Como vislumbrar o amanhã sem a vida que hoje se vive?

Em todo caso, não vamos apressar o rio.

Deixemos, pois, a bela temática ao balanço de águas futuras.

E fiquemos por aqui, com versos de Chico à espera de novos tempos e suspiros.

"Não se afobe, não, que nada é prá já..."

* POSFÁCIO:

Faço com esta série uma reverência ao Tempo,
justamente na semana em que completo
35 anos de carreira e agradeço a vocês
a companhia e o carinho.

 
 
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