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Título: As redações de então
Autor: Rodolfo C. Martino - publicado em 07/10/2009
 

Estranho sempre o silêncio e assepsia das redações de hoje.

Deve haver exceções.

Mas, não as conheço.

Sempre que vou a uma delas, fico surpreso com o tom civilizado das conversas entre jornalistas. Mas, o que me entristece é que não mais ouço ali o toc-toc-toc intermitente, a rapsódia das máquinas de escrever, quase encoberto pelo vozerio da rapaziada no delírio do "fehamento".

O deslizar dos dedos nos teclados dos computadores, embora ritmados e ultraeficientes, não tem o mesmo charme, não empresta o mesmo charme ao lugar.

Me disseram agora agora que no on-line se "fecha" minuto a minuto.

Deve ter aí seus encantos. Eu que hoje estou um tanto saudosista.

Tenho lá meus motivos, permitam-me não externá-los.

II.

Lembro que nas redações antigas não se tirava férias.

Não era medo de perder o emprego.

Até porque emprego em jornalismo nunca foi vitalício.

O Velho Nasci, mestre e amigo, sempre dizia:

-- Tem alguma coisa de errado com o jornalista que ficar cinco anos no mesmo jornal.

E concluía depois de uma baforada no cachimbo holandês que não sei quem deu a ele:

-- Com o jornalista ou com o jornal. Provavelmente com os dois...

Ficamos anos, décadas na Velha Redação de piso assoalhado; eu e os meus chegados, mas sempre concordamos com a frase.

O Nasci era um dos nossos.

III.

Retomando a conversa, explico.

Não tirávamos férias porque trabalhávamos e nos divertíamos com o que fazíamos. Ninguém queria ficar de fora de algum grande acontecimento. Como o Brasil e os brasileiros são pródigos em fazer e acontecer, tínhamos serviço o ano todo e todo o ano. Da cobertura da Corrida de São Silvestre em 31 de dezembro às eleições que eram em novembro, valia tudo e topávamos tudo – Carnaval, Copa do Mundo, manifestações populares, visitas ilustres, ocorrências policiais, coberturas internacionais, entre outras demandas.

Valia tudo para dar a manchete do jornal.

IV.

À noite, em algum Sujinho da vida, contávamos nossas prosas.

E reclamávamos – ah, como reclamávamos! – de tudo e de todos.

No dia seguinte, de cara lavada e alma aventureira, lá estávamos para começar tudo de novo.

Com a mesma saudável insanidade, marca registrada dos jornalistas de então.

FOTO NO BLOG: Jô Rabelo

 
 
COMENTÁRIOS | cadastrar comentário |
 
Autor: Analy Cristofani Data: 19/10/2009
Rodolfo...
Na verdade, elas ainda são barulhentas sim. Mas o que sai da boca é o stress de ser castigado por chefes longe de ser como vc...
E os bares recebem os jornalistas até altas horas também pra ouvir reclamações, que no dia seguinte seguem na mesma batida.
Redação é lugar de louco...rs
 
Autor: Eric Lovric Data: 08/10/2009
Olá Rodolfo

Às vezes leio o seu blog. Gosto muito do estilo e do conteúdo. Adorei o post "As redações de então" e de novo, lembrei dos relatos semelhantes de Paulo Francis e Tarso de Castro e me perguntei se não teria nascido em era errada.

E qual não foi minha surpresa ao descobrir que você era um conterrâneo. Sim, sou cabucetense. Diria roxo, se não fosse crioulo.

Enfim, sou tão roxo (figurativamente) que até criei um super herói advindo do bom e velho Camboja:

http://capitaosp.uol.com.br/html_2007/index_ep.php?episodio=capitaosp/swf/carcamano1.swf

E sou aspirante a escritor também. Mando-lhe o meu mais recente texto, esperando que tenha tempo e ele não seja escasso:

http://mondozuado.wordpress.com/

Grande abraço

Lovric
 
Autor: renata hernandes Data: 08/10/2009
Desculpe o mau jeito, mas ao som de Jorge Ben Jor... "Menina...", quase duas da madrugada, tropeço neste texto, velhos tempos, as borrentas máquinas de escrever, as fitas de U-matic nas ilhas de edição por onde passei, tudo dá para resistir, mas lembrar do Nascimento.... não pude deixar de invadir o pedaço. Quantas histórias, quanta saudade... Ele era um Rei.
 
 
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