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Título: Cheiro de notícia
Autor: Rodolfo C. Martino - publicado em 27/11/2010
 

Promessa é dívida.

Lembram-se que no post de ontem o Peixoto me pediu para que lhes contasse uma história que ele próprio me contara e eu transformei em crônica lá pelos idos dos anos 90?

Pois então...

Não achei a crônica, mas a história é a seguinte:

Lá pelos idos de 60, andava todo faceiro o Peixoto pela rua 7 de Abril, no Centro de São Paulo, e notou que um certo rapaz, todo engravatado, não se acanhou em dar um chute num desavisado cachorro que ousou cortar seu caminho. De imediato, um senhor, que também viu a cena, protestou verbalmente pela agressão ao pobre bicho. À observação mais do que oportuna, o impulsivo moço retrucou com um vôo rasante no pescoço do pobre defensor das minorias irracionais. Socos, pontapés, a turma do deixa-disso. Fez-se o tumulto e uma multidão parou para ver o triste espetáculo.

Como sempre acontece nesses casos, surgiram três alas: os que estavam a favor de que ali não era calçada para cachorro, os que consideravam o brigão mais animal que o próprio e a imensa maioria de curiosos que queria mesmo é ver o circo pegar fogo. Argumentos e contra-argumentos logo se transformavam em discussões que geravam conflitos -- e a coisa não tinha fim...

Aos mais jovens convém lembrar que na rua 7 de Abril situava-se a sede dos Diários Associados, de Assis Chateaubriand, que reunia alguns dos melhores repórteres da época. E foi exatamente um deles, Carlos Spera (que formou uma trinca famosa na TV Tupi ao lado de Tico-Tico e Maurício Loureiro Gama), que ao se dirigir à Redação percebeu a confusão e foi ver o que estava acontecendo.

Como se dizia à época, a coisa tinha cheiro de notícia.

Os litigantes logo reconheceram o jornalista e o transformaram em mediador da disputa. As observações logo ganhavam contornos de discursos acalorados, alguns inclusive com embasamento filosóficos-pugilísticos. Outros sugeriam que o repórter tratasse do assunto nas páginas do Diário de S.Paulo, o principal matutino da época.

Confiavam na sua pena.

A certa altura, resolveram finalmente deixar o mestre dar seu parecer.

Eis que a turba se pôs em silêncio.

-- E então, doutor, qual seu veredicto? - disse um senhor de chapéu, em tom cerimonioso.

Spera foi de uma precisão cirúrgica.

-- Falta-me o x da questão.

-- Como assim? - espantaram-se todos.

-- O cachorro? Onde está o cachorro? Ele é o que realmente interessa. Todo resto não passa de um grande equívoco.

 
 
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