Uma história banal.

De amores que não se cumprem.

Que se perdem como o por do sol na montanha que ninguém vê...

Encontravam-se quase todos os dias ao acaso.

Cumprimentavam-se. Sorriam.

Vez ou outra se surpreendiam um a olhar o outro, de um jeito morno, quase aflito.

Cortejavam-se.

Em algumas ocasiões conversavam sobre tudo e sobre nada.

Deixavam-se ficar – e era difícil quando chegava a hora de ir.

Foi em uma dessas ocasiões que, do nada, ela disse que pensava muito nele, mesmo quando estava acompanhada. “Mais do que deveria”, reforçou, usando adequadamente o verbo no futuro do pretérito.

Disse mais:

(Ela estava falante nesse dia.)

-- Sonho com a gente em uma casa com varanda, num lugar legal, junto à natureza. Você está lendo dentro da casa. E eu lhe chamo para dividir a rede comigo. É uma sensação boa que só. Engraçado que sonho sempre com você dividindo esse paraíso comigo.

Sabia que mais cedo ou mais tarde teriam que enfrentar esse momento. Por isso, ele resolve fazer uma delicada provocação:

-- Você sonha comigo quando dorme?

-- Sonho com você de olhos fechados e abertos.

Ele dá um passo à frente, faz menção de aproximar-se. Com ele não acontece diferente.

Tenta entabular as palavras.

Mas, a moça delicadamente se afasta.

O silêncio pesa por segundos.

Só é quebrado pela turma que voltava do almoço e se juntou a eles, ruidosa e falastrona.

Todos riem, e nem se dão conta do muito/pouco que houve ali.

Cada qual seguiu para o seu lado, cabisbaixo, coração aos trancos; ambos submersos na névoa densa das possibilidades impossíveis.

De amores que não se cumprem.

Que se perdem como o por do sol na montanha que ninguém vê...

Bem, eu avisei que era uma história banal!