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Título: Escova viu a Mariana
Autor: Rodolfo C. Martino - publicado em 17/03/2011
 

“Eu vi a Mariana!”

Ninguém prestou atenção ao entusiasmo de Escova assim que ele chegou ao boteco de praxe, na esquina das ruas Bom Pastor com Greenfeld, ali onde o Sacomã torcia o rabo e hoje existe a Estação homônima do Metrô.

Desconsertado com a súbita indiferença dos parceiros, o arremedo de Dom Juan insistiu:

“Gente, eu vi a Mariana!”

Do jeito que estava, entretido entre a conversa sobre futebol e o goró da vez, o pessoal continuou:

Escova aumentou o tom de voz, e reforçou a argumentação:

“Gente, eu via a Mariana. Ela está linda!”

Alguém virou a cabeça e o integrou à roda de jornalistas, bebuns e adjacentes:

“Fala, Escova! O que você está vociferando aí, cara?”

Era a deixa para ele repetir pausada e sonoramente:

“Gen-te- eu- vi-a- Ma-ria-na... Ela-es-tá-lin-da!”

Mulher era um dos temas preferidos da rapaziada.

Daí, a inevitável pergunta:

“Que Mariana, Escova?”

“Aquela, estagiária do jornal, lembram?”

O silêncio era a prova cabal que poucos se lembravam da moça.

Mas, houve um que resolveu arriscar:

“Mariana? Estagiária? Mas, era pouco mais que uma menina!”

Outro juntou o Lé com Cré:

“Ah, sei! A que namorou o Lópinho, da Gráfica?”

“Levava jeito a moça”, disse um terceiro.

Enquanto os comentários pululavam de mesa em mesa, Escova resfolegou-se com a atenção de todos:

“Pois é. Eu a vi hoje, no shopping. Está linda! Virou mulher. Um espetáculo.”

Todos quiseram saber mais da moça. Aquela zapeada, item a item, que todo homem faz quando uma beldade é o assunto – as condições da comissão de frente, o arredondado da preferência nacional, pernas, sorriso e alegorias gerais.

Todo gabola, Escova esgrimia as palavras como dava para retratar, com fidedignidade própria aos grandes repórteres, o que viu e o desejaria ver.

No melhor da descrição – muitos já estavam aos sonhos --, a voz pausada do Isma mostrou-se categórica:

“Escova, você falou com ela?”

“Vou ser sincero. Perdi a fala quando a vi.”

“Pois é...”

“Pois é, o quê, Isma?”

“Pois é, a moça que namorou o Lópinho nunca foi estagiaria, nem se chama Mariana.”

Fez-se o alvoroço. Vaias, assovios, alguns palavrões – tudo em direção ao Escova, amigo, parceiro, velho de guerra, o Dom Juan das quebradas do Sacomã. Que não perdeu a pose, como sempre aliás:

“Gente, não importa o nome que ela tenha. É só um detalhe. Importante é que eu vi a Mariana. Ela está linda! Um espetáculo!”

 
 
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