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Título: Mané é mané
Autor: Rodolfo C. Martino - publicado em 02/07/2011
 

Malandro é malandro, ‘mané’ é ‘mané’, diz o samba.

Levanta a mão quem nunca deu algum vacilo?

Amáveis internautas, os meus são tantos e tamanhos que, por vezes, imagino minha vida como um vasto equívoco.

Diria até que uma certa compulsão para bancar o otário.

Não resisto a (in)certas tentações.

Lembro o tempo em que trabalhava em um jornal de Santos, e lá pelas tantas apareceu na redação um jovem vindo diretamente do cais do porto, com ofertas irrecusáveis. Na mão do espertalhão, uma coleção de relógios da marca Porshe, bem ao alcance de nossos salários (ocasionalmente recebidos naquela tarde).

Poucos resistiram a pechincha.

Fui um dos primeiros a comprar o meu – todo preto, análogo e digital.

Uma modernidade!

Dia seguinte, ao abraçar a amiga recém-chegada de viagem, a pulseira do tal enroscou-se à blusa de lã da moça. Por incrível que pareça, no duelo de titãs entre os fios de lã e o metal da pulseira, venceu o primeiro e a jabirosca contrabandeada se desfez nas minhas mãos. Corrente para um lado, mostrador para outro, os ponteiros pararam e os números digitais começaram a saltar em sinal de alerta.

Acham que aprendi a lição?

Nem pensar.

Tempos depois, em outra redação, um velho amigo reapareceu depois de anos sem dar sinal de vida. Jornalista como nós, fora tentar a sorte em pequena cidade do interior do Paraná, abriu um jornal e deu com os burros n’água.

Veio nos procurar em busca de alguma ajuda.

Não pediu nada, mas fez uma espécie de leilão para um cordão de ouro que trazia, reluzente, no pescoço.

-- Peça de família. Sei que não tenho como ficar com ele, mas quis vendê-lo para algum amigo. Sabe como é, quem sabe um dia a coisa melhora e posso compra-lo de volta.

Um dos nossos sugeriu que ele colocasse a jóia na penhora. Mas, o tal amigo ignorou o comentário – e eu apressei-me em dar o lance definitivo. Uns 200 paus, na grana de hoje. 250, talvez.
Ninguém ousou concorrer comigo.

Durante dois ou três dias todos invejaram a jóia rara que eu ostentava, sem nenhuma discrição; colarinho aberto para todos verem.

Nas semanas seguintes, aliás, também reparam que eu desistira de usar o cordão.

Reparam também nos vergões esverdeados que a imitação barata me deixara no pescoço e que não desaparecia de jeito nenhum.

Nem aos esfregões diários de bucha e sabão de coco...

* amanhã continua...

 
 
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