Escova está inconformado.
Mesmo seu rechonchudo currículo de mulheres conquistadas – “entre as moçoilas de 20 e os 50 e tantos, já transitei legal, ainda causo e deixo saudades” – já não lhe serve de base pra quase nada. Por isso, ele está prestes a desistir de tais façanhas.
-- Alguém precisa me explicar o que está havendo com elas...
Em tempos de redes, faces e que tais, o bom malandro não consegue decifrar o que as moças de hoje querem.
-- Sim, não, sim, não... Elas só embaçam.
É o que ele me diz – e, como prova, mostra a mensagem que recebeu, via email, e lhe trouxe tanto alvoroço:
"Engraçado quando penso,
por que não gosto de pensar...
Mas quando penso, penso em você.
E nas sutilezas que nos envolvem.
Pra você, parece ser chato.
Essas e outras coisas. Nada demais. Só chato.
Como as boas coisas da vida se tornam.
Venho aqui para te dizer que te gosto.
De um jeito simples.
Simples e sutil, o que talvez não seja tão chato.
Toque a bola para que eu jogue.
Eu jogo bem, só não tenho camisa.
E o jogo não tem apito.
E todos os juízes são ladrões.
Senti sua falta.”
Fez-se o silêncio.
Senti que o amigo esperava por minhas sábias palavras. Na ausência do Dr. Nicola, qualquer patacoada lhe soaria como uma mensagem do oráculo.
Pego de surpresa, juro que procurei ser o mais sincero que pude.
Fiz pose de Café Filosófico, e mandei ver:
-- Que ela tem certa desenvoltura para se expressar, é notório. Que gosta de futebol, é inegável. De resto, meu camarada, nada mais posso lhe assegurar. Se me permite, um palpite: esquece! Ela não virá. Mulher quando quer alguém, não manda recado. Vem pessoalmente, e dá início ao jogo quando bem entende.
Não sei se Escova gostou do meu prognóstico. Desconfio que continuou inconformado. Saiu dizendo que precisava encontrar o Dr. Nicola a qualquer custo... |