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Título: A parada dos números
Autor: Rodolfo C. Martino - publicado em 11/06/2012
 

Desconfio que já lhes contei essa história por aqui.

Não resisto em contá-la de novo – e o motivo vocês entenderão ao final do texto.

O Nasci era diretor do Departamento de Relações Públicas do Clube Atlético Ypiranga, idos dos anos 70.

Eu, um jovem repórter que, pela primeira vez, cobria o Carnaval em São Paulo.

Fui designado para cobrir os bailes que se realizavam no ginásio do clube.

Naquele tempo, o carnaval de salão ainda estava em moda por aqui.

Logo na primeira noite, vi o salão lotado de foliões.

Procurei, então, o Nasci – foi quando eu o conheci – para me dar uma estimativa de público.

Nasci, o relações públicas, não pensou duas vezes:

-- Aí por volta das 10 mil pessoas.

Fiquei impressionado.

Não duvidei por um instante. Para onde eu olhava havia gente.

Foi meu lead – e se bem me lembro o título da reportagem.

Lembro-me da expressão de estranhamento do editor, o saudoso AC.

Devido ao adiantado da hora do fechamento, resolveu “comprar” a informação.

Anos depois, o Nasci veio trabalhar com a gente na velha redação de piso assoalhado.

Virou o colunista Zé Armando.

Eis que acontece um evento de grandes proporções no mesmo ginásio.

Havia tanto ou mais gente do que em um baile de carnaval.

Nem me preocupei em perguntar para os responsáveis do Ypiranga sobre a superlotação.

Tasquei na manchete da reportagem:

“Mais de 10 mil pessoas etc etc.”

Nem bem viu o título o grande Nasci veio me alertar da bobagem que estávamos publicando.

-- Não cabem mais do que 2 mil pessoas no ginásio.

Fiquei espantado. E lembrei-o que ele próprio, quando trabalhava no clube, me falou em 10 mil pessoas.

-- Eu disse isso?, tentou disfarçar.

Mas, logo confessou, justificando-se:

-- Esse tipo de informação varia conforme o lugar que se ocupa. Se você está do outro lado do balcão (como um dos organizadores), é praxe ser otimista, chutar pra cima. De outro modo, se você é o repórter, cabe apurar o número exato – e sair contando...

E riu a divertir-se da peça que me passara.

Lembrei-me dessa história hoje ao ver o número de participante da Parada Gay que o Data-Folha anunciou, “obedecendo critérios científicos”.

Algo em torno de 270 mil.

Bem diferente dos 3,5 milhões de pessoas, número divulgado pelos organizadores.

 
 
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