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Título: No apartamento, às escuras...
Autor: Rodolfo C. Martino - publicado em 25/07/2012
 

Da janela do apartamento viu os fogos espocarem ruidosos e coloridos a anunciar o novo ano.

Saudou a noite clara, e imaginou a confraternização das pessoas.

Estava só.

A mãe e o pai foram para o litoral – e estranharam quando, dias atrás, a filha não topou acompanhá-los, e lá se juntar ao restante da família.

Lembrou o espanto da mãe, com a decisão.

-- Mas, você gosta tanto da algazarra da praia, de rever os primos.

Ia completar dizendo que a viagem era uma tradição entre os parentes, mas respeitou o silêncio da moça. Preste a completar 30 anos, ela deveria saber o que estava fazendo.

-- Tem alguma coisa em vista?

Outra pergunta da mãe que ficou sem resposta.

Um sacudir de ombros da filha deu a exata noção de que deveria encerrar o assunto por ali.

II.

No apartamento às escuras, agora ela reviveu a cena – e resolveu telefonar para a mãe.

Foi curta nos cumprimentos.

Desejou felicidades a todos – e não deu maiores satisfações.

Disse que estava bem – e que este seria um começo de ano inesquecível.

Propôs um brinde ao Novo Ano que prometia...

III.

Só então deu início ao ritual que programara para si.

Foi à geladeira, pegou a garrafa de champagne e serviu-se em taça de cristal.

Brindou à nova mulher que nascia naquele exato instante.

Às favas, as convenções, pensou.

Lentamente, despiu-se – e caminhou para o banho de essências que se esmerara em preparar. Cuidou para não molhar o cabelo. Perdera horas no salão para ajeitá-lo de um jeito mais sensual, provocativo.

IV

Ficou ali, na banheira, hora e tanto. A deliciar-se bebericando...

Calmamente retirou a lingerie da embalagem. Destacou a etiqueta, com um sorriso e a sensação de que era mais um luxo seu do que propriamente uma peça de sedução. Nesses momentos, quase sempre os homens são tão afoitos.

Do guarda-roupa, sacou o vestido longo, quase uma túnica, de linho branco, algo transparente. Tão simples de vestir quanto de despir.

Olhou-se no espelho, ajeitou os cabelos – e gostou do que viu.

Ele não resistiria.

V.

Mal terminara de calçar as sandálias, ouviu um toque de buzina já conhecido seu.

Da mesma janela, ainda viu o carro estacionar.

Só então abriu as cortinas por inteiro e deixou que o luar, com sua luz azulada, banhasse tênue a sala.

Ligou o som.

Acendeu as velas que ornamentavam o centro da mesa.

E aguardou serenamente que a campainha soasse.

Sabia quase nada dele.

E daí?

Às favas, as convenções...

Era uma mulher livre, e afim.

O Novo Ano prometia.

 
 
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