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Título: A vingança
Autor: Rodolfo C. Martino - publicado em 07/05/2013
 

Tales era amigo de Agostinho que amava Paulinha que amava Tales que era amigo de Agostinho, mas não sabia da história e se engraçou com Paulinha.

O novo casal fez segredo do romance até que resolveu anunciar o casório.

Detalhe: os três trabalhavam na mesma empresa.

Quando Agostinho soube da ‘boa’ nova, perdeu o chão e o resto de cabelos que ainda resistia à inexorável ação do tempo.

Pobre Agostinho!

O rosto de Paulinha, angelical. Olhar atrevido. O riso de Paulinha, cativante. Paulinha e o amigo Tales de mãos dadas, que cena! Jamais esqueceria. Não poderia viver assim.

Mudou de trabalho, de bairro, de cidade, de Estado.

II.

Os anos se passaram.

Agostinho não esqueceu Paulinha. Mas, também, a milhas e mihas de distância, se habituara àquela desilusão.

No automático, vivia e deixava viver.

III.

Até que um dia, alguém bateu à sua porta e o Senhor Agostinho, como era conhecido naqueles cafundós, atendeu como sempre fazia: aos berros. Meio que injuriado, como se alguém, de repente, fosse acabar com o seu sossego.

- Se vier em nome de Deus, que seja bem-vindo. Mas, venha numa perna e vá na outra.

IV.

Era uma moça linda. Rosto angelical. Olhar atrevido. Riso cativante.

Paulinha?

O tempo também se fizera refém da beleza da moça?

Como assim?

Agostinho baqueou.

Como ela me descobriu aqui - pensou.

Sonhou alto ao perceber que Tales não dera sinal de vida.

Será?

V.

- Tio Agostinho? Andréa, muito prazer. Vim convidá-lo para as bodas de prata dos meus pais, Paula e Tales, seus amigos, lembra-se deles?

Uma agulhada crispou o coração do homem.

Suspirou. Imaginando a vingança.

Convenceu-se, ali mesmo. Conquistaria Andréa e...

VI.

Nem tudo estava perdido.

No entanto, a moça tinha algo mais a lhe dizer.

- Ah, e também faço muito gosto que o senhor participe da cerimônia do meu casamento. Vamos fazer uma festa só. Vai ser lindo, inesquecível.

VII.

Não houve resposta.

Ouviu-se apenas o baque de um corpo que tombou.

VIII.

Dia seguinte, no velório, o falatório era geral. Um homem sempre tranqüilo, qual a causa do infarto que matou Agostinho naquele exato instante?

Uns falavam da emoção de ter sido lembrado tantos anos depois.

Muitos concordaram com o diagnóstico. Menos aquela senhora que jogava búzios, com ares de quem sabe das coisas, e dizia exatamente o contrário.

- Morreu foi de raiva por nunca ter esquecido...


•Trecho da crônica “Entre Amigos”, publicada no livro “Meus Caros Amigos – Crônicas sobre jornalistas, boêmios e paixões”, lançado em 2010, por conta e risco do autor, este modesto blogueiro.

 
 
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