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Título: Encontro das águas
Autor: Rodolfo C. Martino - publicado em 10/11/2013
 

Íamos rio-adentro naquele batelão que, em sã consciência, nunca me mimaginaria navegar.

O que será que me deu? Perdi a noão do perigo ou sempre fui um hábil marujo – e nunca me dera conta?

Passamos o encontro das águas, rumo aos igarapés, um dos quais nos levaria ao lugar prometido, mais do que almejado.

Só eu e você.

Inexplicável sensação de juventude rediviva. Olhar penetrante, envolvente. Cabelos revoltos a emoldurar o rosto pequeno, de traços suaves. Fiz menção de lhe dizer que, desde o primeiro momento, entendi que seríamos... eternos.

Você – qual seu nome mesmo? – sorriu um riso breve, convincente. Como a me dizer que o melhor estava por acontecer.

Que eu... Bem, que eu aguardasse!

Entendi que era hora de desligar o motor e tocar a canoa com o remo, pelo sinuoso recorte de água, mata a dentro.

Você parecia saber o caminho. Sem dizer palavra, guiava-me apenas com o olhar e a frágil sedução.

Não me perguntem, amáveis cinco ou seis leitores de sempre, de onde tirei tanta coragem, tanta destreza de navegador experiente a manusear motores, remos e o mistério das águas amazônicas.

Não me perguntem.

Não saberei responder.

Nem teria tempo.

A mochila à minha frente, no chão do barco, começa a tremer a princípio levemente. Depois de forma mais intensa. Chama minha atenção que o balanço se estende para a embarcação que ameaça virar a qualquer momento. Simultaneamente, imagino ouvir uma campainha como se fosse um alarme, estridente e repetitivo.

Estranho. Suas feições continuam serenas, plácidas, como as águas do rio. Como se nada estivesse acontecendo.

Talvez não esteja mesmo.

Mas, o que se passa?

“ALGUÉM ATENDE ESSE TELEFONE!”

Ouço a voz familiar, incisiva e forte, que me tira do topor e, queiramos ou não, me tira da suposta enrascada.

Desperto com o coração acelerado, ofegante.

Você não existe. Não existe rio, barco, o lugar prometido...

Existe o sofá da sala, o telefone e a melhor das lições:

Nunca se recoste em lugar algum, após uma pratada de macarrão em plena tarde de domingo.

Seu sonho mais do que encantado pode se tornar em pesadelo.

 
 
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