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Título: O ritual
Autor: Rodolfo C. Martino - publicado em 20/05/2014
 

Era uma cena que víamos à distância.

Os escolhidos pelo irmão Demétrius formavam o Vasquinho (a seleção do colégio, o irmão era vascaíno). Jogávamos nas manhãs de domingo, após a missa das oito (era obrigatório a participação) e treinávamos às quartas e sextas após as aulas, a partir da meio-dia.

Ao final do treino, quando já estávamos indo embora (arrasados pela fome), observávamos os irmãos maristas se perfilando no último andar do prédio de quatro pavimentos para, em seguida, dar início à reza do rosário. Enquanto desfiavam pais-nossos e ave-marias, caminhavam lentamente, tal e qual uma corporação militar pelos corredores do colégio Nossa Senhora da Glória no Cambuci.

II.

Para quem não conhece o colégio, são três prédios de quatro andares, justapostos em forma de U, com um campo de futebol no meio. Os corredores externos davam acesso às salas de aula – e era ali que os irmãos faziam a oração pós almoço.

A gente não entendia o motivo daquela andança. Havia uma capela logo ali no andar de baixo, com toda a pompa e circunstância.

Mesmo assim, nos intrigava o mistério.

III.

Reconheça-se que existia uma plasticidade no ritual. As vozes em uníssono traziam certo encantamento e serenidade. Diria que algo próximo ao que fui sentir, anos depois, ao ouvir os cantos gregorianos,

Saí da escola marista, e segui a vida. Não sou santo, nem cheguei a ser um pecador inveterado. Confesso que, dos vinte até os quarenta e tantos, andei distante da Igreja e das orações.

IV.

Voltei aos poucos movidos por circunstâncias e também por que estava me sentindo um tanto vazio de objetivos e metas.

Comecei a freqüentar as igrejas São José e da Imaculada Conceição (ambas no Ipiranga) pela manhã, antes de seguir para o jornal.

V.

Recuperei certa paz de espírito nessas visitas.

Não freqüentava as missas os cultos. Preferia o templo vazio, silencioso.

Ainda hoje faço isso, Faço minhas orações em voz baixa, diante dos altares dos santos ou mesmo longe deles. Simplesmente caminho no embalo da fé e da esperança, como os maristas da Glória, sem saber, um dia me ensinaram...

 
 
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