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Título: Haja coração!
Autor: Rodolfo C. Martino - publicado em 07/07/2014
 

Jogos eliminatórios de Copa do Mundo são tensos. Curioso pe que, a cada Mundial que se passa, ficam ainda mais apavorantes. Vou lhes dizer que, desde aquela partida com o Chile, meus dias e noites têm sido assim, aos sobressaltos – entre uma mesa redonda e outra, olhos e coração atentos ao noticiário da seleção.

Nessas horas, lembro o amigo saudoso, o Nasci.

Nas copa de 82, nessa fase, adotou um ritual bem simples para fugir de tantas e tamanhas emoções. Aliás, por recomendação médica.

II.

Depois de duas operações para implantação de pontes de safenas, o médico Nabil Gorayeb recomendou que ele evitasse acompanhar os jogos; seja no rádio, seja na TV.

Obediente que só, o Nasci trancava-se em um apartamento na região dos jardins. Preparava o fumo de aroma achocolatado em seu cachimbo holandês e passava em revista sua variada coleção de vinis. E dá-lhe Dolores Duran, Maysa, Isaurinha Garcia, Altemar Dutra, alguns hits de Sinatra, aquela canção do Roberto, os versos do Vinicius e os sambas esparramados de Agepê (que o Nasci achava a cara do Brasil).

III.

Foi assim diante da Argentina – e o Brasil venceu por 3 a 1.

No dia seguinte, aguardávamos preocupados a chegada do amigo. Assim que pôs os pés na velha redação de piso assoalhado e grandes janelões para a rua Bom Pastor, foi logo nos tranquilizando:

- Tudo nos conformes. O Altemar é o maior cantor romântico da atualidade e o Agepê é o meu ídolo.

E o jogo Nasci, alguém perguntou. Resistiu a tentação de não ver, nem ouvir?

- Na boa. Assim que ouvi os rojões, desencanei. Percebi logo que o Brasil havia vencido. Haja coração!

IV.

No jogo decisivo contra a Itália, vestiu a mesma a roupa e se propôs a fazer a mesma rotina. O apartamento às escuras, os discos, o silêncio da cidade...

O silêncio da cidade...

O silêncio da cidade...

A derrota para Itália foi cruel – entristeceu a todos.

V.

Alguém lembrou o Nasci. Como estaria o coração do amigo. Não houve festa, não houve rojões naquele fim de tarde de 5 de julho.

Enquanto encarávamos o fechamento da edição, escalamos o Escova para resgatar o Nasci em seu bunker antitaquicardia.

Era o que podíamos fazer.

Foi o que fizemos.

VI.

Só os encontramos tarde da noite no Sujinho, onde afogávamos a nossa dor.

Chegaram um tanto breacos, os dois.

Não demonstravam tristeza. Ao contrário.

Estavam felizes que só.

VII.

Quisemos saber o que havia acontecido.

E o Nasci não se fez de rogado.

- Amigos, nem vi passar o tempo. Quando dei por mim já era fim de tarde, então, fui à varanda. Olhei as ruas vazias, a metrópole com ares de cidade-fantasma. Achei tudo sinistro, muito sinistro...

E o coração?

- Ah, o coração só acelerou quando passei na padaria do seo Teixeira para recolher a grana do bolão. Ganhei sozinho. Apostei na Itália. Haja coração!!!

 
 
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