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Título: Breve memória de um homem barbado
Autor: Rodolfo C. Martino - publicado em 25/09/2014
 

Homens usam chapéus.

Meninos usam bonés.

No tempo dos meus avôs, as verdades eram absolutas, incontestáveis.

Em uma de suas deliciosas crônicas, Rubem Braga saudou aqueles dias:

“Eu sou do tempo em que todos os telefones eram pretos e as geladeiras, todas, eram brancas”.

Não conheci o vô Rodolfo que era alfaiate (morreu meses antes de eu nascer), mas convivi com o vô Carlito que era chefe da seção de chapelaria da Ramenzzoni, no Cambuci.

Eu era um garoto curioso que via o pai escanhoar o rosto todo o santo o dia.

- Marmanjo com a barba por fazer é o cúmulo do desmazelo

Fosse qual fosse a classe social, do operário ao patrão, era imperdoável apresentar-se socialmente sem estar com o rosto raspado e devidamente borrifado com loção, tipo Água Velva.

O pai cultivava, com esmero, de um fino bigode no melhor estilo Clark Gable, em O Vento Levou.

Era o máximo que se permitia em termos de pelos no rosto.

II.

Não lembro exatamente quando as coisas começaram a mudar.

Mas, aí eu já era um rapazote, fã dos Beatles e dos Rolling Stone.

Pensando melhor.

Talvez tenha sido na segunda fase dos Beatles que desandou o formalismo dos padrões estéticos vigentes.

Paul, Ringo, John e Harrison viajaram para a Índia, conversaram com um guru, toparam com as tais “experiências místicas” e voltaram cheios de ideinhas e largações.

Abandonaram os terninhos sem gola, as franjinhas bem aparadas e as botinhas rebrilhantes para consagrar um estilo mais descolado. Cabelos longos, desgrenhados que só e barbas a reverenciar os profetas e os ermitões.

A capa do histórico disco Abbey Road é a melhor prova da mudança.

Depois vieram os hippies e escancararam.

Levaram o relaxo, com estilo, às últimas conseqüências.

III.

Mesmo assim, só a rapaziada alternativa enfrentava a barra de ignorar os padrões convencionais.

Para trabalhar em um banco, por exemplo, o interessado precisava vestir-se adequadamente (tons escuros de terno, camisa clara e a indispensável gravata) e usar cabelos bem aparados (que não roçasse o colarinho da camisa) e o rosto a exibir aquela pele lisinha, lisinha, como se fosse um bumbum de bebê.

Quem escapasse desses padrões, podia ser o gênio das finanças, seria eliminado na primeira etapa da seleção de candidatos.

*Continua amanhã...

(O Blog hoje completa oito anos
e 2335 posts. Nunca imaginei...
Agradeço aos meus cinco
ou seis leitores pela
paciência em me ouvir.)

 
 
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