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Título: Os descolados, o celular e o jacaré
Autor: Rodolfo C. Martino - publicado em 10/02/2015
 

Vila Madalena. Uma noite dessas em um bar qualquer daqueles que reúnem os descolados da vez.

Importante especificar o grupo de amigos: profissionais liberais, jornalistas, professores universitários, um publicitário e até uma linda doutora a chamar a atenção de todos e dos que estão nos arredores.

Um breve perfil.

São o que se convencionou chamar de os descolados, descolados mesmo.

Características: não ouvem axé, nem sertanejo pop, ainda fazem ressalvas à TV aberta (exceção se forem convidados a trabalhar em uma das emissoras), e só assistem às séries importadas na TV por assinatura.

Ideologicamente, estão desiludidos com o PT, mas desconfiam dos ‘tucanos’. Alguns votaram na Marina nas últimas eleições; outros anularam o voto em pelo menos um dos dois turnos.

Andam sem assunto para discutir. Cansados que estão do mesmo lesco-lesco dos noticiários, não encontram disposição para falar das frequentes viagens (até porque todos já foram aos mesmos lugares e têm a mesma impressão sobre monumentos, points e programação cultural).

A noite está um porre.

Nem a Casa do Saber e sua programação intelectualóide dão consistência à conversa da rapaziada.

Alguém propõe falar sobre os filmes que estão em cartaz na cidade e que concorrem ao Oscar.

“Óbvio demais”, Dézinho se insurge.

Nem o livro do Chico (Meu Irmão Alemão) causa maior comoção.

“Mais do mesmo”, diz outro, visivelmente contrariado.

Todos estão presentes – então, fica difícil falar mal de alguém presente. Ano sem Copa do Mundo, sem eleição, sem... graça. Um tédio!

Alguém propõe, então, um desafio para motivar os ânimos.

Um a um, cada qual deverá responder o quê ou quem levariam para uma ilha deserta.

Acredite, se quiser, caríssimo leitor! O celular (com bateria especial que não se esgota) ganhou por unanimidade. Ou quase!

Só um dos presentes, o Cadu, ousou convidar a linda doutora para compartilhar a aventura com elezinho.

- Melhor, não, Cadu. Sem chance, respondeu a moça. – Até porque, se nessa ilha, estivesse eu, você e um jacaré, desculpe, meu caro, eu ia preferir o jacaré.

 
 
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