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Título: O balão
Autor: Rodolfo C. Martino - publicado em 06/03/2015
 

O balão era enorme. Multicolorido. Lindão!

Tinha o formato de um peão. A 30, 40 metros do chão. Cambaleava tocado pelo vento.

A tocha se apagara, vinha em minha direção.

Cairia bem próximo a mim, no meio da rua de paralelepípedos, onde o movimento de automóveis era quase nenhum, tanto que, nas tardes cálidas daqueles tempos idos, nós, os garotos suburbanos do Cambuci, jogávamos bola até que se aproximasse a sombra da noite. Ou – o que não era raro acontecer – a mãe de um dos nossos aparecesse para, aos berros, por fim à nossa vadiagem.

Meados de junho.

Tempos de festas.

Bombinhas, rojões, fogueiras, os três santos, as quermesses – e as noites de uma São Paulo, ainda provinciana, onde era possível ver as estrelas e os balões – prendas mais do que desejadas pelos garotos de então.

II.

Quem passasse a temporada sem pegar ao menos um ficaria com a pecha de “pagão” por todo aquele ano.

Em compensação quem aparecesse com uma preciosidade como aquela à minha frente seria elevado ao panteão dos grandes, dos notáveis.

III.

Eu já estava me sentindo um deles.

O belo se aproximava, sem riscos, entregue.

Quem diria que, ao escutar a minha mãe, e levar um prosaico bolo de fubá, feito especialmente pro vô Carlito (que morava na rua Lavapés) seria premiado, na volta, com tamanha prenda.

IV.

A rua estava deserta.

Me aproximei do balão quase no exato momento em que tocaria o solo.

Procurei pela “boca” do bichão para agarrá-lo ali e evitar qualquer avaria.

Ninguém acreditaria na minha façanha.

Eu aproveitaria para ‘aumentar’ um tantinho mais a proeza.

Falaria que o disputei no muque com os moleques da turma da rua Piaí (hoje
Miguel Telles Júnior) e, na malandragem, me dera super bem.

A prova esta ali, em minhas mãos, e faria questão de mostrar a todos.

V.

Não foi preciso.

Não sei de onde surgiram.

Mas, TODOS estavam ali. Numa avassaladora correria.

Alguém me empurrou pra longe.

Várias mãos ansiosas, em desespero, buscaram o “lindão”.

Em segundos, só restaram os retalhos coloridos e a ameaça de briga entre os fortões das diversas gangues.

Sem contar, claro, minha infinita tristeza de ser só um vacilão.

VI.

Lembrei a história ao tentar entender o que acontece hoje com o lindão chamado Brasil.

Chegou às alturas, cortou o céu. Comparou-se às estrelas.

Depois, perdeu força.

Cambaleou.

O declínio se fez inevitável.

Deveríamos corrigir essa rota com atenção e cuidado.

Despedaçá-los, como ora se faz, é a tragédia anunciada.

 
 
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