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Título: Jeremias, o interventor (parte 6)
Autor: Rodolfo C. Martino - publicado em 04/09/2015
 

Escova – sempre ele – me pergunta se o bebum do boteco não repete, em nosso enredo, o papel do cego no cordel nordestino ou do ermitão da montanha como personagem mediador, digamos, da nossa história sem fim.

Não havia pensado nisso, a princípio. Mas, concordo em parte com a observação do auto-proclamado ombudsman do nosso humilde Blog. Essas três ilustres figuras revelam uma percepção antecipada dos fatos que se sucedem. Mostram uma consciência crítica desta ou daquela ação, desta ou daquela fala.

Achei divertida a comparação, mas reitero ao Escova, experiente freqüentador de padocas, botecos, bares e afins, que todo estabelecimento desse gênero que se preze (especialmente o das antigas, que preservam as paredes ladrilhadas e o balcão de mármore ou fórmica) tem como figura impoluta um personagem assim.

Naqueles bons e velhos tempos do ‘sujinho’ da rua Bom Pastor, onde se exibe imponente a Estação Sacomã do Metrô, o grande e sábio guru da nossa turma era o saudoso Nasci.

Enfim...

Deixemos de lero-lero e voltemos à nossa história que, no capítulo de ontem (ui!), terminou com sérias suspeitas sobre os procedimentos do Jeremias. Lembram?

Para ser bem sincero, o Seu Mané não ouviu o comentário do sábio-bebum, nem outro qualquer. Passou o dia injuriado com a realidade, a esquisita realidade, de seus dias.

A pimpolha Jacira já não era motivo de suas cobiças, embora continuasse “um chuchuzinho”. E cada dia mais sorridente para o seu lado. Na administração do forno e do fogão, no entanto, deixava a desejar – o que só fazia aumentar a “saudade” da amada Luzia.

Toda vez que atrasava a fornada de pão, quando desandava a massa dos salgados ou havia um desacerto no cardápio do almoço, era um “ai Jesus” para o desalentado Seu Mané. Tudo isso mais o espectro da crise que aflige o país.

O amigo temia pelo bom nome do seu patrimônio maior, a Flor de Avis e, lá no fundinho d’alma, preocupava-se mais, bem mais, com o abandono a que Luzia lhe deixara.

Não gostou nada quando um rapazote desconhecido, mas com pinta de sacana, pediu uma cerveja e se pôs a cantarolar baixinho:

“Malandro é malandro
Mané é Mané
Podes crer que é”

Pela primeira vez em tantos e tantos anos de padaria, pensou em encerrar o expediente antes da hora e voltar a casa para esclarecer algumas situações.

- Malandro é malandro, Mané é Mané, ora pois... Será que esse fedelho está com gozação para cima de mim?

*Amanhã continua

 
 
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