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Título: Jeremias, o interventor (parte 7)
Autor: Rodolfo C. Martino - publicado em 05/09/2015
 

Ufa!

Fim do expediente.

Seu Mané baixou as portas de aço, como nunca dantes em sua vida. Aliviado, ansioso.

Queria chegar logo em casa. Até notou que Jacira, a tal e qual, insistiu em ficar além do tempo normal e, àquela hora da noite, naquelas circunstâncias, se ele lhe oferecesse uma carona, seria difícil segurar. A menina estava lhe dando um mole.

Ficou tentado, mas segurou a onda. Naquele dia, não. Estava ansioso, como disse. Ansioso, não.

Amargurado. Queria esclarecer aquela situação de uma vez por toda.

Vez ou outra, lembrava a intimidade com que o sacana do Jeremias lhe tratara hoje cedo.

“Lu, Lu... Que intimidade do malandro com a minha patroa!”, pensava e se entristecia.

Sabem aquela velha canção da Maysa – mesmo os mais jovens devem saber, porque andou tocando aí numa minissérie da globo – que diz “meu mundo caiu”?

Pois então, não quero assustá-los, não, leitores. Mas, lhes antecipo que serviria como uma boa trilha sonora para a recepção que o nosso Mané teve em casa assim que abriu a porta.

Dona Luzia lhe esperava para reviver os bons tempos. Os bons tempos dos esculachos na padaria.

Ela não deu sequer boa noite, e lhe sapecou uma saraivada de impropérios que deixou a alma e o coração tal e qual aquele famoso queijo suiço, repleto de buracos.

Para piorar, a pauleira terminou com o seguinte e bandeiroso recado:

- E nunca mais ouse incomodar o Jejê com perguntas sobre a minha vida. O coitadinho perdeu até fome. Tá me ouvindo, Mané? Nunca mais, ouviu?

(...)

Confesso que não sei ao certo o que dizer aos meus amáveis cinco ou seis leitores.

Sinto que devo continuar a história, é meu dever. Mas, imagino que, assim como eu, vocês também estão um tanto – ou muito – decepcionados com Dona Luzia, Luzia ou Lu, que seja!

Não é de minha competência julgá-la.

Por isso, sigo relatando o que pensou o Seu Mané:

(Sei o que pensou, óbvio, porque sou o autor dessa historieta – e todo autor que se preze tem acesso à ‘caixa preta’ dos personagens).

“Quer dizer que, enquanto eu trabalho duro para tocar os negócios do estabelecimento, me esfalfo atrás do balcão, a minha Luzia fica de papinho furado com aquele vagabundo, aquele salafrário, aquele...”

Bem, bem paremos por aqui.

O pensamento do Seu Mané continuou bem mais prolixo e, digamos, contundente. No entanto, e de forma até surpreendente, nada disse. Não pediu explicações. Sentiu uma tonteira, uma ardência no peito, não estava entendendo nada, mas, naquele átimo de segundo, teve a compreensão exata de tudo que estava se passando.

Deu meia-volta – e saiu.

* amanhã continua

 
 
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