Ela me conta que vai viajar.

Já marcou as férias pra não sei quando, mas está decidida, empolgada – ou mais que isso até.

Qual palavra usar?

FELIZ. Está feliz que só.

Será a primeira experiência internacional. Mesmo que seja por alguns dias, “uma semana, quem sabe”, v ai valer à pena.

É jovem. Tem todo o direito de sonhar e, principalmente, de realizar esses sonhos.

Respondo que viajar é a melhor coisa do mundo.

Ela concorda com um sorriso.

II.

Talvez sequer precisasse fazer o comentário. Até porque tenho uma exagerada fama de viajandão. Que, aliás, reforço sempre que posso a contar histórias e causos dos lugares por onde andei.

Mas, não sou desses turistas papai-sabe-tudo.

Sou largadim, digamos assim.

Gosto mesmo de estar nas ruas com as pessoas. Gosto de vê-las a andar para lá e para cá, nos parques, nos mercados, nos becos e vielas. Nem sempre faço o roteiro oficial do visitante estrangeiro. Há marcos históricos que troco na boa por um entardecer numa mesa de rua do café mais chinfrim da cidade. Ou por uma escada em um deque qualquer para apreciar o por do sol num horizonte sem fim.

III.

Olaiá...

Para mim, isto é que é viver.

Me enrosco nos escaninhos da memória – e sequer me dou conta que a moça já está de partida, tão “nem aí” quanto chegou.

Antes, porém, despede-se cheia de si.

“Viajar é libertador!”

IV.

Torço para que dê tudo certo, moça. Que você se divirta bastante. Que curta cada segundo dos dias que viver em plagas distantes – ou não tão distantes assim.

Viajar é sempre um amealhar de histórias. Vividas e/ou observadas.

Aliás, tenho projeto de livro que reúne as crônicas que escrevi sobre minhas modestas andanças mundo afora. Já escolhi até o título para a obra. Deverá chamar-se “Relatos de Um Viajante Parvo”. Só não sei quando conseguirei lançá-lo.

V.

Para terminar – já que elazinha se foi – faço um registro: em 6 de abril de 1986, entrei pela primeira vez numa avião e lá fui eu correr atrás do mesmo sonho.

Ainda hoje toda vez que embarco é o mesmo alumbramento...