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Título: Balzac e os jornalistas
Autor: Rodolfo C. Martino - publicado em 05/02/2017
 

“A imprensa organizou o pensamento e o pensamento em breve irá tirar proveito do mundo. Uma folha de papel, frágil instrumento de uma ideia imortal, pode nivelar o mundo”.

Termino a leitura de “Os Jornalistas”, de Honoré de Balzac, presente do amigo José Reis, com a sensação de que a coisa toda é muito antiga. Já no século 19, o escritor francês denuncia “a onipotência dos jornalistas de seu tempo, sua vaidade venal, a versatilidade de seu julgamento e a influência abusiva que exercem sobre os governos”.

As palavras entre aspas não são minhas (apesar de concordar com elas). E, sim, do editor, já na apresentação do livro, na edição de 1999.

No prefácio, o jornalista Carlos Heitor Cony expõe:

“Temos aqui o Balzac puro, autêntico, anedótico quase”.

E pontifica:

“O tema escolhido é a imprensa de seu tempo – da qual pinçou personagens e situações que persistem na mídia do final do século 20”.

Lembro que a edição é dos estertores do século passado – portanto, não é falso acrescentar que “personagens e situações” se espalham até os dias atuais. Só que agora no âmbito mais midiáticos, digamos assim. Usando e abusando do internetês. Seja para as plataformas tradicionais, seja para o mundo digital.

(...)

É minha vez de pinçar algumas citações que não me surpreenderam, mas foram tristemente esclarecedoras:

“Todo o jornal que não aumenta sua massa de assinantes, seja ela qual for, está em decrescimento”.

(Vale hoje para revistas e afins, óbvio)

“Os proprietários-redatores-em-chefe-diretores-gerentes de jornais são ávidos e rotineiros. Parecidos, eles e suas folhas, ao governo que atacam, têm medo de inovações e perece com frequência por não saber fazer os gastos necessários e em harmonia com o progresso das luzes”.

“O jornal é o jornal, o homem político é seu profeta. Ora, você sabe que os profetas são profetas muito mais pelo que eles não dizem do que por aquilo que eles disseram. Não há nada mais infalível do que um profeta mudo”.

“Quanto menos ideias se tem. Mais longe se vai. Esta é a lei em virtude da qual esses balões filosóficos-literários chegam necessariamente a um ponto qualquer do horizonte político”.

“Os caracteres gerais do crítico são essencialmente notáveis, neste sentido de que existe em todo o crítico um autor impotente”.

“Para o jornalista, tudo o que é provável é verdadeiro”.

(...)

Desconfio que o sr. Honoré Balzac (que deu origem ao termo ‘balzaquianas’ para definir as mulheres mais maduras, a partir de um romance que escreveu com este título A Mulher de 30 Anos) teria problemas hoje também com a analogia que segue:

“A Imprensa, como a mulher, é admirável e sublime quando conta uma mentira. Não o deixa em paz até tê-lo forçado a acreditar nela, e emprega as melhores qualidades nesta luta onde o público, tão tolo quanto um marido, sucumbe sempre”.

 
 
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