HOME BLOG CONTATO INDIQUE ESTE SITE
 
Área:
BLOG | ver comentários |
Título: Conto com você...
Autor: Rodolfo C. Martino - publicado em 19/12/2006
 

“Cláudio Abramo, notável jornalista e ser humano, pediu, em um dos últimos textos por ele assinados neste espaço (coluna da página 2 da Folha de S.Paulo), antes de morrer em 1987, que os jornalistas não perdêssemos a capacidade de indignação”.
Caro mestre, juro que tentei seguir sua lição. Mas, confesso que está ficando mais e mais difícil. Não que falte, neste país, matéria-prima para a indignação. Ao contrário, sobra.”

O texto é do jornalista Clóvis Rossi e foi escrito em 2002 – e não recentemente como poderíamos entender, vide noticiários. Motivos para tanto não faltam a qualquer jornalista que se preze e preze a profissão.

Achei mais do que oportuno recuperá-lo. Também porque fala um pouco por mim. Modestamente...

II.

Há 32 anos, estou nessa de rolar pedra em jornalismo – 30 dos quais, em veículos e publicações e dois como coordenador de curso de jornalismo.

Não me queixo. Não escolhi essa vida – queria ser guitarrista ou jogador de futebol, no mais antigo dos anos. Confesso, porém, fui (e sou) feliz em tudo o que fiz e faço, apesar dos erros (muitos) e dos acertos (alguns).

Mas, tem dias, internauta amigo, que não é fácil.

III.

Nós, jornalistas, ficamos com a sensação de Sísifo, aquele herói da mitologia greco-romana incumbido de eternamente rolar uma grande pedra morro acima...

Em texto recente, também rolei minha pedra, e fiz meu desabafo:

“ Há um momento – ou vários – em nossa vida profissional em que nos sentimos descorçoados, algo debilitados, quase-quase a entregar os pontos, os ideais e os textos. A lida na redação não é simples, e há dias que se tornam a mais escura das noites. Nada parece fluir, fazer sentido. De alguma forma, temos a alma trincada por não ver os resultados que tanto almejamos com o suor diário. Há um sentimento de cansaço por lutar as mesmas lutas. Sonhar os mesmos sonhos. Escrever o mesmo texto zilhões de vezes. A impressão é a de que martelamos a ferro frio a utopia da construção de um mundo melhor.”

IV.

Na verdade, trata-se de um trecho do pronunciamento que fiz numa das colações de grau de estudantes de jornalismo, ainda neste ano. Lembro que depois de mim outro orador foi a tribuna - e como vão oradores à tribuna nessas cerimônias! Não deixou por menos. E disse:

-- Ao contrário do Rodolfo, sempre trabalhei no que me fez feliz...

Fina ironia. Quase interrompi a fala do felizardo. Iria lhe lembrar EDUCADAMENTE que não me sentia infeliz pro trabalhar com jornalismo. É que falei de Redação, onde o couro come doído e a vida tem vida. E nem sempre podemos sair por aí a noticiar só o que gostaríamos. Com manchetes do tipo:

“O MUNDO É LINDO”

“NÃO HÁ MAIS CRIANÇA COM FOME NA TERRA”

“ENFIM, A PAZ”

Aliás, estamos bem longe disso. E não por nossa vontade.

"Enfim... " - como diz Dona Encrenca, uma personagem que você logo vai conhecer. Prometo!

Mas, não vamos fugir do assunto.

V.

O leitor mais atento já percebeu onde quero chegar. Isso mesmo. Também estou na bronca com o vergonhoso aumento com que os próprios parlamentares pretendem (iam) se auto presentear. 91 por cento. “É um absurdo maior de grande”, como diria o amigo Dinoel que hoje não deu às caras por aqui (toc, toc, toc).

Olhe o que escrevi em outubro de 1996:

“Acrescente-se o costumeiro oportunismo de nossos políticos, sempre prontos em legislar em causa própria. Agora mesmo, na votação da reforma administrativa, conseguiram fazer mudança constitucional bem insidiosa. O novo item permite que os próprios parlamentares aumentem seus salários quando quiserem independentes dos reajustes nos outros Poderes.”

Não vou me descabelar até porque os cabelos andam ralos. Vou pedir que visite o ícone Toques e Retoques, na barra à direita. Acesse o link “reajuste 91%” e deixe lá sua bronca – é um manifesto público contra mais esse abuso que fere a alma, o bolso e a dignidade das gentes brasileiras.

Vamos lá, conto com você.

É isso.

 
 
COMENTÁRIOS | cadastrar comentário |
 
Autor: Rosana Data: 21/12/2006
Eu fui a 12861 a assinar...

Sobre o assunto:
Na verdade essa coisa dos salários, tecnicamente, o direito a este aumento está garantido por lei, já que eles não recebem dissídio a algum tempo, mas o que pega de verdade é a falta de bom senso, tendo em vista que um dissídio sobre salário de 300 reais não vai falir o estado, enquanto que este, que acumulou 91%, sem dúvida vai.

Nesse momento nossos parlamentares deveriam pensar em todas as pessoas que não possuem casa, comida, uma roupa para vestir. As pessoas que não tem acesso à educação e apelar para o bom senso de que nosso dinheiro é suado (diferente do deles) e que não pode ser usado dessa maneira.

Mas e nós, onde ficamos nesse fogo cruzado entre a lei e o bom senso?
Bem, minha mãe disse que deveríamos fazer uma greve de impostos. Parar de pagar os impostos e pronto. Mas acho que isso só dificultaria mais a nossa vida, já que os salários de parlamentares nunca atrasam, e quem vai sofrer com a falta de escola, hospital e tudo o mais somos nós mesmos, já que os filhos dos parlamentares estudam em caras escolas e possuem seus caros planos de saúde.
A única saída possível é não se calar, e apesar de achar que nosso jornalismo anda meio falido, estou orgulhosa das movimentações do setor, tendo em vista a gravidade da situação. Não há um dia que passe que eu não leia na internet diversas matérias sobre o assunto. Não passo um dia sem ligar a televisão e ver um discurso inflamado sobre o absurdo da situação. E isso é ótimo, pois, mesmo com todos os "rabos presos", dessa vez, ninguém quis ficar quieto, ninguém o pôde.
Nos dias de hoje, com o diploma quase na minha mão, começo a ter orgulho da minha profissão. Espero que esse sentimento não passe logo, mas espero também que os motivos que levaram a isso não tardem em desaparecer.
 
 
© 2003 .. 2024 - Rodolfo Martino - Todos os direitos reservados - Desenvolvido por Sicca Soluções.
Auto-biografia
 
 
 
BUSCA PELO SITE