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Título: Try a little tenderness 2
Autor: Rodolfo C. Martino - publicado em 26/03/2007
 

VI.

Entendeu, então, que as chances eram remotíssimas, siberianas, absurdas. Mesmo assim não perdeu as esperanças. Seus olhos não se controlavam. Desceu alguns degraus para vê-la. E lá estava ela com seu porte de princesa entretida no revisar letrinha por letrinha o jornal do dia seguinte.

Fez uma doce viagem ao redor dos sonhos e da fantasia. Que situação! Estava ali tão próxima a ponto de poder abraçá-la e...

O passo em falso, em um dos degraus, fez com que retornasse à realidade. Deu meia-volta e rápido subiu para a redação ainda vazia. Viu o descalabro de fotos sobre a mesa do editor e concluiu que era melhor enfrentar o risque e rabisque da vida.

Será que ela percebeu? Se percebeu, o que estaria pensando?

Sentou na cadeira giratória do chefe e fez que não estava nem aí para o vozerio que vinha do andar inferior, onde a bela agora sorria feliz.

Estariam rindo dele?

VII.

No andar de cima, o moço era só incerteza. Inquietou-se e, para disfarçar o indisfarçável, se pôs a brincar de girar. Gira pra cá, gira pra lá...

Não conseguia se concentrar no serviço...

Em caras e bocas, esforçava-se para começar a edição. Franzia a testa, demonstrava preocupação. Mas, o pensamento lhe escapava, louco para descer e se inteirar do que estava acontecendo. Estancou a cadeira e pensou em voz alta:

-- Nunca a vi tão linda...

VIII.

A bem da verdade, ponderou, qualquer trapinho lhe caía bem. Mas aquela calça de crepe indiano, em tom claro, e a mini-blusa, sensualíssimas, insinuavam que a perfeição era possível e estava logo ali, a dez ou doze degraus abaixo...

Esfregou a palma da mão direita na parte de trás do próprio cabelo, no melhor estilo Fábio Júnior. Reviu a cena de há pouco e o diálogo imaginário com a Senhora Razão não lhe saíam da mente. Ao chegar, passou por ela – e a cumprimentou. Ela respondeu, com um breve ‘oi’ e sequer o olhou. Percebeu que toda aquele encanto estava a lhe escapar por entre os dedos. Não olhava. Não sorria. Pouco falava. Estancou na escada porque concluiu: não queria.

Outra vez, o desespero. Precisava fazer algo, com urgência. Iria descer, interromper o que ela estava fazendo e, na frente de todos, expor em gênero, número e grau o que estava sentindo...

IX.

Bobagem...

Seria uma demonstração pública do seu ridículo. Entre assustada e envaidecida, sobraria para os ouvidos dele um sonoro não. Precisaria ser algo assim mais discreto, algo mais convincente...

Poderia lhe escrever. Um bilhete? Achou pouco. Uma carta? Achou muito. Não queria aborrecê-la. Também não havia carteiro que servisse de uma seção para outra. Poesia? Calma, calma, não tinha talento para tanto. Um torpedo? Perigoso. E se ela o interpretasse mal. Um email. Sim, seria seria uma boa. Mas, a dúvida. Por onde começaria?

Descobriu seu endereço eletrônico na agenda da chefia.

Não pensou duas vezes. Foi para o computador, abriu um arquivo com o nome dela e, como um virtuose, enfrentou o teclado, inspiradíssimo:

"Ú shimaibe uili...A iú son tu go ui file..."

X.

Se deu certo a estratégia? Não sei. Sei que os dois se casam agora, numa desses sábados de abril, quando o céu se faz de um azul único aos olhos de quem vive um grande amor.

Nota do Autor 1 -

Para Ângelo e Daniela que se casam nas próximas semanas. A história dos dois não é exatamente esta. Mas, também não fica muito longe disso, não. Na verdade, todas as histórias de amor se parecem...

Nota do Autor 2 -

Try a little tenderness

* Jimmy Campbell

Oh she may be weary
Those young girls they do get weary
Wearing that same old shaggy dress
But when she gets weary
You try a little tenderness

I know she's waiting
Just anticipating
The thing that you'll never never possess
No no no but while she's there waiting
Try just a little bit of tenderness

That's all you got to do
Now it's not just sentimental no
But she has her griefs and cares
But the soft words they are spoke so gentle
Yeah yeah yeah
And it makes it easier to bear
Oh she won't regret it, no no
Them young girls they don't forget it
Love is their whole happiness
Yeah yeah yeah
But its all so easy
All you got to do is try
Try a little tenderness

You've got to
Hold her
Squeeze her
Never leave her
Now get to her
Got got got to try a little tenderness

You've got to hold her
Don't squeeze her
Never leave her
You've got to (break)

 
 
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Autor: Angelo Verotti Filho Data: 29/03/2007
Caro Rodolfão. Fica até difícil escrever alguma coisa após uma homenagem como essa. O recado da Dóris me pegou de surpresa e a alegria de compartilhar tamanha emoção com a Dani foi algo mais do que sensacional. Foi indescritível. O tempo passou e é muito bom saber que, após tantos anos, os grandes amigos não sumiram. Muito pelo contrário. Aparecem com iniciativas que nos deixam cada dia mais confiantes na preservação de um sentimento quase extinto no mundo individualista em que vivemos: a amizade. Por isso, só posso te dizer de coração: obrigado. A poucos dias de um dos momentos mais importantes de nossas vidas, só posso dizer que eu e Dani fizemos nossa aposta e espero que, daqui a muito anos, possamos dizer a você: Rodolfão, somos vencedores. Mas jamais nos ouvirá lamentar por não ter tentado. Agradeço por ter tornado nossa história mais bonita e que a alegria que vivemos neste momento possa contagiar todos os amigos, especialmente os que estiveram ao nosso lado durante estes anos, como é o seu caso. O que me deixa mais contente é saber que poderemos nos encontrar em breve para relembrar os velhos tempos e comentar sobre esta maravilhosa lembrança. Obrigado, meu amigo.
 
 
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