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Título: Outono de 1988
Autor: Rodolfo C. Martino - publicado em 27/05/2007
 

Manhã de outono de 1988. Uma das pequenas ruas arborizadas nos arredores do meu querido Parque da Aclimação. Lá estava eu, com caneta e bloco de anotações, para fazer uma reportagem sobre a obra do artista plástico, Gino Bruno, que falecera dez anos antes. Naquela ocasião, um grupo de amigos queria reverenciar sua memória com a realização de uma retrospectiva no Museu de Arte Moderna.

Foi a primeira vez que visitei o ateliê de um pintor – no caso, o genro de Bruno, Sílvio Alves, um dos idealizadores da mostra. Fiquei encantado com o festival de cores que banhavam o lugar de amplas janelas a permitir a plena invasão da luz solar.

Lembro da ênfase que Alves deu à necessidade de que o País tinha (e tem) de preservar a sua identidade cultural, a partir de seus expoentes artísticos. “Se em vida o grande público mal os conhece (os artistas), imagine, então, depois que morrem” – ponderou. Conclui que a reportagem precisaria ser a mais esclarecedora possível – didática até – e foi com este propósito que a escrevi para a Revista Afinal, onde foi publicada em 14 de junho de 1988.

É este texto que recuperei e, a partir de hoje, disponibilizo aqui.


RETROSPECTIVA VALIOSA

* O MASP vai expor, pela primeira vez, a obra de Gino Bruno

Na última semana de vida, o pintor Gino Bruno acalentou a idéia de ver ma retrospectiva de suas obras no Museu de Arte de São Paulo. Como se pressentisse a morte, Bruno procurou o amigo Pietro Maria Bardi, que se mostrou vivamente interessado em realizar a exposição. Os detalhes foram todos acertados, mas dias depois (8 de setembro de 1977), o pintor morreu de enfarte aos 78 anos. “O sonho, no entanto, permaneceu vivo em cada um de seus discípulos, em cada um de seus admiradores” – ressalta Sílvio Alves, pintor, aluno e genro de Gino Bruno.

Sílvio é um dos principais coordenadores do movimento de artistas plásticos que está organizando, para o segundo semestre deste ano, a tão almejada retrospectiva no MASP.

“Estamos recolhendo as diversas obras de Gino Bruno nos museus e acervos particulares. Queremos reunir o maior número possível de telas para traçar um perfeito painel da obra impressionista de Gino Bruno que, particularmente, considero um dos expoentes de nossa pintura, ao lado de Cândido Portinari e Lazar Segall”, explica Sílvio em seu ateliê próximo ao Parque da Aclimação.

Ele entusiasma-se ao comentar a obra do mestre, um artista reconhecido e premiado no Brasil e no Exterior.

“Meu sogro possuía um traço pessoal inconfundível”, explica Sílvio. “Sempre foi bastante elogiado e, mesmo participando de movimentos renovadores como a Semana de Arte de 22, jamais se deixou levar pelos modismos. Tinha uma personalidade marcante – traço, aliás, que passou para sua obra”.

Sílvio lembra um texto do poeta Menotti Del Picchia, de 1947, verdadeira elegia ao trabalho de Gino Bruno: “Enquanto os demais expõem, polemizam, discutem, negam-se, elogiam-se, xingam-se – este pintor pinta. Pinta com fervor, com exasperação, com absorção total do seu tempo”.

Em outra crônica, não menos elogiosa, Del Picchia compara a obra de Gino Bruno à de Cândido Portinari. Diz o crítico e escritor: “Portinari é a técnica a serviço da imaginação. É a inquietação em múltiplos caminhos. Bruno é a técnica e a obstinação. A luta em profundidade (...) Portinari dá-me a idéia de um astrônomo que anseia por descobrir novas galáxias e estrelas. Gino Bruno sugere-me o químico pesquisando a essência da matéria.Um é dinâmico e condoreiro e o outro estático e lírico”.

Natural da província de Adria, na Itália, Gino Bruno veio ainda criança para o Brasil, junto com os pais. Sempre viveu em São Paulo, onde estudou no Liceu de Artes e Ofícios. Foi contemporâneo de pintores como Anita Malfati, Paulo Rossi Ozir, Tarsila Amaral, que agitaram a Semana de Arte Moderna em fevereiro de 1922.

“O Brasil é um país sem memória”, desabafa Sílvio Alves. “Em termos de artes visuais, então, nem se fala. Sequer existe um acervo que assegure para a posteridade o notável conjunto de obras de artistas nacionais. Se em vida o grande público mal os conhece, imagine, então, depois que morrem”.

Por isso, Sílvio e um grupo de amigos – todos apaixonados pela pintura – empenham-se para divulgar a obra de Gino Bruno, “responsável por uma valiosa, inestimável contribuição à cultura brasileira”.

(* No blog, tem foto.)

 
 
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Autor: Jose Campos Data: 16/05/2013
Prezado Rodolfo,

Gostaria de saber em que ano GINO BRUNO foi professor da escola de belas artes de sao paulo.

Fraternal abralo
 
Autor: leila Data: 28/05/2007
Bonito ver você lembrar as cores de Gino Bruno. E trazer para o blog os sonhos de suas paisagens, tão pouco saudadas pela mídia, mas reconhecidas por seus contemporâneos (Portinari, Anita Malfatti, Tarsila). Ao contrário de tantos outros, Gino Bruno não se deixou envolver pelos modismos e viveu a essência da arte, registrando com serenidade a perfeição da natureza com suas flores e frutas, a alegria dos palhaços e a inocência das crianças.

Leila Kiyomura
 
 
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