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Título: El Bigodon
Autor: Rodolfo C. Martino - publicado em 13/02/2008
 

Foi em Santiago de Compostela.

Cansados do dia de andanças pelos arredores da Catedral de Santiago, onde chegam os peregrinos, resolvemos esticar até um centro comercial nos limites da cidade.

Na Europa – inclusive, na Espanha onde estávamos há alguns dias – não existe essa cultura de shopping center como no Brasil e nos Estados Unidos, e os tais centros de comércio e entretenimento lembram as antigas lojas de departamentos que tanto sucesso fizeram por aqui nas décadas de 50 e 60. Era chique comprar no Mappin, em A Exposição/Clipper, na Sears, Pirani e congêneres.

Hoje, por aqui, a ordem é todos ao shoppings.

Mas, de volta à Espanha.

Naquele fim de tarde, tomamos um ônibus que nos deixou em frente ao imponente - mas, não luxuoso - centro comercial.

A calefação do lugar estava próxima aos 30 graus – o que contrastava com o frio de 3 graus que enfrentamos o dia todo na rua.

Estranhamos.

Logo arrastávamos nossos capotes loja a dentro. Não assimilamos o contraste entre as duas temperaturas.

Tanto que bastaram uma dezena de minutos para desistirmos da nossa expedição consumista – e acatamos felizes a sensata idéia de voltarmos de táxi para o hotel, não muito distante dali. Diria que alguns minutos de automóvel, mas longe o suficiente para tentarmos outra caminhada.

Bastariam poucos euros – quatro ou cinco, no máximo.

Foi o que fizemos. Dentro do luxuoso Pegeaut, com GPS e o escambau, orientamos o motorista sobre o endereço para onde íamos.

-- Hotel Congresso, ok?

Linguagem mais universal que esta impossível.

-- Ok, respondeu o motorista.

Bastaram alguns minutos para estranharmos o caminho que o home de bigode estiloso estava fazendo. Brasileiros que somos, logo entendemos a jogada. Mas, ninguém ousou questionar o itinerário. Vai que El Bigodon sabia de umas quebradas que desconhecíamos. Afinal, éramos turistas.

Bom, o mistério logo se dissipou.

Em minutos o carrão parou à porta de luxuoso hotel, que, diga-se, não era o nosso. Em frente ao tal, um prédio antigo, grandioso e bem-cuidado. Acho que era a Assembléia ou a Câmara Regional lá dos amigos galegos – Santiago fica na região da Galícia.

Era a hora exata de gastar meu portunhol.

-- Não és cá. Sigamos para Hotel Congresso, Hotel Congresso, onde ai uma estradita, um caminho. Comprendiô?

Não sei qual o santo que fez o milagre. O próprio São Tiago, é bem provável. El Bigodon compreendeu -- não me perguntem como -- o que tentava dizer. E se explicou: entendeu que queríamos ir para o hotel em frente ao Congresso ou coisa do gênero. Resmungou algo inteligível e manobrou o Peageaut 406, agora sim no destino certo.

Fiquei cismado.

Digo ou não digo que foi um golpe. Explico para o motora que sou brasileiro e não português ou italiano – e que, na minha terra, esses golpes são manjadíssimos. Que não sou otário e não vou pagar mais do que 4 euros.

Pensei e repensei.

Compro ou não compro essa briga em terra estranha?

Não foi preciso, meus simpáticos leitores.

Acalmem-se.

Assim que passamos diante do centro comercial, onde havíamos tomado a condução, El Bigodon zerou o taxímetro por vontade própria.

Quando chegamos ao Hotel Congresso, minutos depois, ele anunciou a tarifa: 4 euros. E ainda desculpou-se pelo equívoco.

(* Amanhã vou lhes contar a versão brasileira de uma história muito parecida com a de hoje.)

 
 
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Autor: Fernanda Data: 14/02/2008
Difícil questionar, e ficar com raiva porque no Brasil esses golpes são constantes, são culturas muito diferentes..
Mas a alegria é a mesma de saber que ainda existe gente honesta nesse mundo, mesmo que seja em outro continente.
 
 
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