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Título: O Menino da Porteira
Autor: Rodolfo C. Martino - publicado em 22/04/2008
 

A propósito das notícias que ouvi sobre a refilmagem do clássico sertanejo Menino da Porteira, quero recontar uma história antiga que registrei aqui não lembro bem quando. É que, lá no mais antigo dos anos, entrevistei o garoto que fez o personagem título daquela produção. Foi um baita sucesso que solidificou a carreira de Sérgio Reis no universo da música caipira.

A antiga moda de viola regravada por Serjão forneceu o entrecho para o filme. O garotinho Márcio Costa fazia “o menino da porteira”. Tinha nove, dez anos, se tanto e eu o entrevistei. A mãe o levou ao jornal e falava por ele que, por sua vez, ficava a se olhar no reflexo do vidro da janela da redação. Alheio ao que se passava ao redor, ajeitava o cabelo, fazia caretas, sorria, gesticulava num mundo que era só dele. E a mãe a dizer que o filho nascera para a arte e ele a interpretar ele mesmo em frente a janela.

Essa cena ficou na minha cabeça.

O tempo, senhor de todos os ritmos, passou. O menino, depois do filme, fez algumas novelas, outras tantas peças teatrais. Porém, nunca mais alcançou a mesma projeção. Virou adulto e os papéis rarearam. Reapareceu na redação várias vezes. Vinha divulgar o curso de teatro que iria ministrar na escola tal ou falar do 'personagem incrível' que iria representar numa peça infantil ou mesmo para anunciar que seria escalado para a novela XYZ -- papel que invariavelmente perdia para os novos meninos da porteira, de todas as idades e procedências.

Num dia de julho de 2004, o tal menino, aos 36 anos, não sei se diante da janela ou do espelho, encenou o derradeiro personagem. Morreu sozinho num apartamento no bairro do Ipiranga, onde sempre morou. Era o fim inglório ao que se entendia ser 'a promissora carreira'. Ninguém soube explicar o ato final. Saiu uma brevíssima nota sobre o fato num jornal da região – e só.

Lembrei essa história hoje. A notícia da produção estava no home do Uol. Tenho certeza que poucos vão se lembrar do Márcio Costa. Quis fazer uma modesta homenagem.

Acho oportuno também propor a reflexão sobre os dois lados da moeda. A fama e o anonimato. O sim e o não.

Vivemos tempos estranhos.

É a vida que nos enreda e nos exige forte e, ao mesmo tempo, precisamos ter a desfaçatez de não nos levarmos a sério. A nós, aos nossos quereres, à nossa rotina. Algo assim como a leveza de um filme do Carlitos - que, por sinal, era o apelido do meu avô.

Repare como o vagabundo toca a vida, mesmo na maior das aflições. Para ele, os chefes, as autoridades, os poderosos são invariavelmente medíocres, bizarros - qualquer semelhança como nosso dia-a-dia é mera coincidência. Os amores tardam, se esgueiram daqui e dali. Mas chegam e, o que é melhor, sempre chegam no momento certo.

E ele não precisa de nada mais.Tem o auxílio luxuoso não de um pandeiro, pois não nasceu Luiz Melodia, mas de uma bengalinha e um chapéu 'coco' ou mesmo um brevíssimo sorriso, um olhar que seja. Assim dá certo ritmo à caminhada porque a estrada é longa e sinuosa. Perde-se nos confins do faz-de-conta e é infinita enquanto se chamar esperança.

 
 
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Autor: João Ávila Data: 30/03/2015
Boa tarde Rodolfo Martino!Hoje sem querer acabei lembrando o Marcio!Ele foi nosso amigo de infância no bairro,muito próximo de minha familia,pois éramos vizinhos praticamente desde quando ele nasceu!O Márcio sempre uma grande pessoa,e um cara que realmente nasceu para brilhar no mundo das artes cênicas!E começou bem cedo,como o filme Menino da Porteira,mostra para nós!Ele fez várias novelas, comerciais de televisão,talvez a novela em que ele mais se destacou,tenha sido a novela Éramos Seis,que passou na TV Tupi e depois SBT!se destacou em várias peças teatrais,trabalhando com grandes no nomes do teatro brasileiro,e ultimamente vinha mesmo dirigindo algumas peças infantis,e também trabalhando com projetos teatrais no Colégio Maria Imaculada no Ipiranga,mais precisamente na Avenida Nazaré,próximo ao Corpo de Bombeiros e colado ao Museu do Ipiranga! Fiquei muito feliz pela sua lembrança e homenagem,ao nosso querido amigo!Mesmo já fazendo quase 11 anos de sua morte, o Marcinho,como a gente o chamava,era uma pessoa muito legal!Uma pena o seu suícidio em Julho/2004!De qualquer forma valeu a sua lembrança,e pena que só a vi agora,em Março/2015!Abraços!
 
Autor: Azor de Oliveira Data: 02/07/2014
Rodolfo, bom dia...não sei porque mas hoje me lembrei do Sérgio Reis que por ora lembrei - me que esta internado com problemas de saúde....ao que me pergunto...como será que está o Sérgio Reis.....um cara que admiro muito, pela parte em que se relaciona com o público via televisão e pelo filme Menino da Porteira....que me faz lembrar do Márcio Costa, grande amigo meu e que se suicidou aos 15/07/2004 na casa que morava no Ipiranga.....realmente ele era um cara muito bom....fazia várias coisas ligadas às artes...na época estava coordenando um grupo de teatro no colégio Maria Imaculada, situado também no Ipiranga. Deixo minhas saudades à um grande amigo que tive....Meu nome é Azor Jr. e passei ótimos tempos com o Márcio......Desde já, deixo agradecido pela lembrança do Luxa, como chamávamos eles na época, pois tínhamos e coordenávamos 04 times de futebol de salão. Grande saudade....interessante : Poucos dias antes da morte, ele me entregou o filme em VHS e disse que era para eu guardar a lembrança......sinto muito....já está se fazendo 10 anos....é uma pena !!!!!
 
Autor: Ana Flávia Data: 20/06/2013
Acabei de assistir o remake de O Menino da Porteira e nos créditos estava : Em memória a : Márcio Costa - Primeiro Menino da porteira ... Minha mãe estava chocada pois ela assistiu o filme original e ela era mais velha que o proprio Menino da porteira, ou seja, ele teria morrido muito jovem... E é o que houve ...
Estranho, aquí foi o único lugar onde pude achar informacoes sobre ele, nem fotos encontró...
É realmente incrivel de sua parte fazer está postagem Em memória a ele.
 
Autor: Ana Arisa Data: 28/08/2012
Boa noite! Eu sei que já faz um tempinho dessa reportagem, mas achei maravilhoso você ter lembrado e ter feito uma homenagem ao menino Marcio Costa que se foi, e nem se quer é lembrado por ninguem, claro que eu não o conhecia mas assisti o primeiro filme o menino da porteira em que ele foi o Rodrigo. E por curiosidade comecei a fuçar a net para saber que fim deu esse menino, e encontrei só sua reportagem.
 
 
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