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Título: Velhos jornalistas - Parte 3
Autor: Rodolfo C. Martino - publicado em 11/05/2008
 

Não faz tanto tempo assim. Mas, querem saber? Estou abestalhado – mais do que o costumeiro, diga-se – de ver o jornalismo a ano-luz de distância do que apregoavam os velhos camaradas. Sei que prometi em post anterior não tocar no assunto – vocês já devem imaginar qual. Bem que tentei. Mas, me foi impossível. A gota d’água aconteceu na noite de quarta-feira quando a prisão do casal Nardoni (pois, é vou falar do caso Isabella) se transformou num show de horrores. Muito em função de todo aparato montado pela Polícia e outro tanto bem maior em função do estardalhaço que a mídia vem provocando – e inclui-se aqui até conceituados órgãos de Imprensa e consagrados colegas jornalistas. A Globo, por exemplo, chegou a interromper a transmissão do jogo de futebol para registrar a cena dos dois indiciados sendo algemados. Não bastasse. Fez-se então uma perseguição, pelas ruas de São Paulo, às viaturas policiais que levavam o pai e a madrasta da menina Isabella, brutalmente assassinada em fins de março.

As cercanias do prédio, onde o casal estava abrigado, foram tomadas por uma multidão de curiosos que se portava tal e qual uma platéia de auditório. Um espetáculo deprimente. Que, aliás, continua ainda agora com repórteres, fotógrafos e cinegrafistas postados, em plantão, diante das prisões aonde os dois foram recolhidos “para novas notícias do caso Isabella”. Tudo para alimentar a curiosidade mórbida de parte da população e também, óbvio, garantir boa audiência e boas receitas aos veículos.

Confesso. Fiquei constrangido ao ver uma estabanada repórter de TV tentar interceptar o trajeto da madrasta rumo à viatura policial, com o microfone em punho. A moça foi jogada longe pela ação dos policiais que abriam caminho a trancos e barrancos. Fiquei a imaginar que tipo de entrevista ou de declaração a tal repórter pensou colher ali. Que informação jornalística a acusada poderia lhe passar naquele instante de terror? È certo que a jovem repórter televisiva foi pautada por algum editor ou chefe de reportagem. Ambos igualmente ávidos em transformar o fato jornalístico num grande evento para satisfazer as massas.

Sei bem que Jornais e Jornalistas – e grafo de propósito em maiúsculas – não são isentos de erros. Ao contrário. Vivemos no fio da navalha dos prazos de fechamentos da edição, das pressões políticas e editoriais – sim, porque o jornal tem um dono –, dos interesses escusos à atividade jornalística. A História da Imprensa esta recheada de casos assim a se lamentar. Para ficar em dois exemplos recentes – e amplamente debatidos –, citemos o Caso da Escola Base e o Crime do Bar Bodega; aliás, histórias de equívocos bem próximos aos que agora policiais e jornalistas cometem.

O mais grave, porém, é que estamos cada vez mais sem controle do que estamos fazendo.

A lição do amigo Flávio anda cada vez mais esquecida. Por isso, vou repeti-la aqui:

-- A imprensa, filho, é a expressão do pensamento social. Mas, nunca o jornalista pode ficar refém da opinião pública.

(*Termino amanhã, prometo.)

 
 
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